domingo, 15 de abril de 2012

Shakespeare manda lembranças


Doce Yago, de olhos pequenos
Vindo das baixas patentes, querendo mais, mostrando os dentes.
Faz de mim, seu mouro, a sua vendeta.
Escarnece de mim, e me abre os olhos, ao mesmo tempo que me ama.

Um lencinho, sujo de sangue. Queres mais?
Não seria o lencinho de Desdêmona?
Abre-se como um leque, isto e aquilo.
Nem é preciso olhar com muito cuidado.
Está tudo ali, pronto pra ser visto, confirmado
pelas testemunhas invisíveis, pelos fantasmas
que rondam.

Se enche de ódio, mouro, sua Desdêmona amada te desdenha.
Faz a suspeita pingar em gotas, vermelhas, pútridas.
Ela leva flores para o vaso, flores que não são as tuas.
Mas ela leva para o vaso de Emilia, e diz que as flores a pertecem.
Doce beijo de Desdemônia.

Sente o ar te faltar, infiel?
Sente meus dedos enganados, apertando a sua carne tenra?
Dê seu último suspiro e se despeça como a quem os anjos vêm buscar.

***
Acorda Otelo suando. Foi tudo só um sonho. Só um sonho ruim.
Dorme tranquila, querida Desdêmona. Não foi hoje. Não hoje.