terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Psiu...! É, você mesmo...

Olá! Eu sou um personagem. Sabe, também me chamam de narrador. Eu não me importo já que como sou eu mesmo que conto essa história, eles estão certos. Não vou perder tempo me descrevendo. Assim, pode me imaginar do jeito que lhe for mais conveniente: coloque um nariz mais afilado, mais adunco, um que lhe lembre seu pai, ou um estranho visto ontem no ponto de ônibus. Só me incomoda que vocês leitores, e aí não digo todos, mas a grande maioria, me imaginam um pouco mais baixo do que realmente sou. Não ligo, já que não me interessa entrar nos méritos da trena e do metro, e me resigno a olhar o mundo, este meu mundo, devo dizer, alguns centímetros mais longe do firmamento que gostaria. Não queria começar reclamando demais. Se assim o fizer, você vai, com certeza, ficar achando que eu sou uma pessoa geniosa, uma tia velha que só sabe reclamar que vai ter insolação se está sol, ou que vai se resfriar se está chovendo. Mas realmente queria registrar mais um dos meus desconfortos para que você não ache minha posição tão invejável. Alguns leitores, ao imaginar como eu seria, confiam inteiramente no que digo, e não percebem que eu estou maquiando um pouquinho, afinal, sabendo qual é o modelo de beleza que mais agrada a maioria, vou colocar um certo charmezinho aqui e ali. Mas não sou mentiroso não. Desculpe, estava a divagar e não cheguei ao meu ponto. Alguns leitores ávidos vão direto procurado a linha do enredo, achando que eu estou ali apenas figurativamente pra dar um tom de sinceridade pra coisa toda, e nem sequer imaginam como eu seja. Sou obrigado a passar toda a história como um ser meio sem face, faltando uns pedaços e acho isso uma falta de respeito. Não acho que tenha que pensar em tudo, órgãos internos e tal, manchas de nascença, tamanho da unha, mas não guardo rancor, se você preferir não o fazer.

Hoje o mundo tá dureza pra gente da minha laia. As pessoas querem fatos cadê os fatos provem-se os fatos, e eu não sou um fato, sou um arremedo de indivíduo. Na verdade, eu diria que sou um individuo mesmo, mas daí você leitor mais espertinho ia querer entrar num debate metafísico, dizendo quem eu penso que sou pra ficar achando que sou alguém. Assim, usei a palavra arremedo pra dar uma de vítima, e me colocar num patamar abaixo de você, que é uma pessoa aí de carne e osso, respirando e transpirando. Mas vou ser sincero de novo, porque gosto de você, existo igualzinho, tenho sentimentos e sensações, até faço cocô também, mas tenho que admitir que tudo isso acontece fora dessas linhas, afinal, não se deve mostrar tudo a todos, né? Até seres como nós, os personagens, têm que ter sua privacidade.

Mas você deve estar aí pensando qual é o meu ponto. Onde este rapaz está querendo cheg... rapaz? Quem falou pra você que eu sou um rapaz? Já foi inferindo isso porque eu disse que era um personagem em vez de uma personagem? Você sentiu um certo ar másculo e testosterônico no meu modo de colocar as coisas? Posso ser uma linda donzela, e você não tinha pensado nisso, já que me comparei com seu pai, e com uma tia velha. Podia ser uma menina de quatro anos que aprendeu a ler e escrever em segredo, mas daí você com razão pensa que o meu tipo de escolha lexical não estaria muito de acordo com a minha suposta meninice, por mais prodígio que eu fosse. Tudo bem, sem mais joguinhos, não tenho quatro anos, e você já sabe qual é meu sexo. Não sabe? Bom, talvez fosse interessante que você me imagine como dois, um homem e uma mulher. E assim, perco a minha individualidade e me multiplico.

Falando em multiplicar, queria voltar novamente a um assunto que passou e se foi, mas que vale a pena ser lembrado. Sendo eu esse ser que vive aqui nesse mundo feito de imaginação, existindo ao mesmo tempo nas mentes de muitos que passam os olhos nas páginas e nas palavras, assim como você, quando várias pessoas que te conhecem se lembram de você e assim, te dão nova vida, posso, diferente de você (será)dar algumas sugestões para que o imaginador faça mudanças aqui e ali. Por isso, não diminuo minha megalomania aos que me comparam com um deus. Claro que estes não percebem que estão longe da verdade já que sou ao mesmo tempo senhor da narrativa e escravo dela, da imaginação. Posso controlar os detalhes, mas não o que será feito dele. Muitos me escapam por vergonha de dizê-los, por incapacidade. Veja lá: de que vale eu te dizer que estou usando óculos agora, se você pode me estar lendo num momento, num espaço tempo no qual os óculos foram abolidos e as pessoas não sofrem mais das enfermidades visuais que me acometem.

Mas há a mágica de contar uma história. Já percebeu que o olho das pessoas até brilha quando elas estão ouvindo uma história? Basta cativá-las, organizar bem as palavras, uma depois da outra, deixando uma ou outra de fora, moldando e limando cada frase, pensando mesclando a torrente que sai de você com um certo esforço e sem vergonha de criar. Sendo possuído por forças imemoriais da centelha da criatividade. Quebrando o silêncio, o não saber dizer, com novos dizeres.

Mas eu não chamei sua atenção, não o despertei da letargia do cotidiano para ficar aqui levantando nenhuma bandeira, a minha bandeira. Sou apenas um personagem-narrador, que vai te contar uma história, minha história, mas não agora. Desculpem-me, sinto a cabeça rodar, um cansaço tremendo. Acho que vou me retirar. Quem sabe amanhã?

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Presente 2

Achei injusto colocar apenas um dos presentes se o outro é tão lindo quanto. Deixo a critério da autora se manifestar ou permitir que mais um pedaço de mim conste aqui. Não é uma delícia de ler?


O vento, eu e você


O vento veio e me trouxe saudade,
Não sei bem de quê ou de quem
Só sei que dói, machuca, me aperta o peito
Não é um vento forte nem inesperado
Porque eu sempre soube que um dia ele viria
Sabia que ele chegaria sem avisar
Então apenas deixei ele me abraçar, me envolver,
Mas desejei que ele fosse embora, porque doía demais.
E o vento me ouviu o desejo e se foi
Mas me deixou a saudade, não podia levar com ele,
Ela era muito pesada e ele muito leve, me justificou
Sussurrou, quando bateu nas folhas pra se despedir.
Eu e a saudade ficamos, desejamos juntas e esperamos,
Que um dia o vento voltasse, desta vez mais forte,
Pra sentir o abraço maior, mais envolvente, mais apertado,
E para ele poder carregar a saudade, que a cada dia crescia,
Dizia-se mais cansada, mais inquieta, sem vontade de ficar
E, um dia, sem razão, sem motivo,
Eu senti que o vento viria.E ele veio.
Forte como nunca, derrubando árvores, esvoaçando a poeira
Girando tudo á minha volta, apressado,
Fechei os olhos e caí na escuridão, no frio
Abri os olhos e o vento tinha-se ido,
Procurei a saudade e não encontrei
Olhei á minha volta e vi você.
E eu sorri, fui feliz, mergulhei no sol
E toda vez que sopra o vento, eu sinto medo estranho
De que um dia ele venha mais furioso,
Carregue você, e comece a chover.

Presentes 1

Ganhei esse poema de presente. Ele diz muito de mim, não por mim, mas por como alguém me vê. Se o autor quiser, pode se manifestar para a manutenção ou remoção do presente, mas queria vê-lo aqui... parte de mim, no meio das minhas palavras. Espero que ele não se importe. Mas tá tão lindo...

Eles

Eles vão mentir, Elton.

Eles vão mentir quando disserem que sua existência é dispensável e gratuita. Eles vão mentir quando reduzirem seu intelecto a grunhidos pós-evolutivos.

Provavelmente estão envergonhados. Provavelmente não perceberam.

Não anteviram que você, errante, resplandeceria alguns metros quadrados no coração faminto, cinzento e fabuloso da República – in English, mas com sotaque caipira. Eis teus homens, teus saberes e sabores. Tuas peripécias.

Se eles tivessem te imaginado antes do Big Bang, trocariam olhares e fariam uma pausa antes de gargalharem estúpidos. Não acreditariam que nasceria esse deus imperfeito, essa semente promissora, indivíduo apaixonante, íntegro e com sabor de tempestade.

Não. Impossível. Os átomos jamais formariam Elton.

Por isso eles mentem. Mentem porque foram surpreendidos.

O drama cósmico de luzes e sombras encontra nesses lábios aconchego, unidade e equilíbrio; o prazer de completar, sentir e trocar. Se o Big Bang foi para isso, que explodam igualzinho da próxima vez!

Eles mentem, mas eu sei. Eu sei orbitar. O mundo pode entrar em colapso – ‘dow’ jones, ‘up’ jones – mas a luz nunca apaga para quem Elton floresce. Não posso tatear o Sol, mas posso tateá-lo, e é por sua cútis que o Astro Rei se revela.

Eles? Eles não encontraram o pote de ouro. Eu encontrei, e desde então o Universo pulsa mais eloquente, mais verdadeiro.

E mais ausente. Infelizmente.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

(o pior (pre)texto)

Prepare-se para ler o pior texto que já leu.
respire fundo e pense duas vezes.
Quem avisa amigo é. E eu começo invocando as musas.
Onde estão vocês nesses tempos?
Me fazem abandonar meus leitores na solidão de uma palavra amiga.
Deixam-me fazer minhas frases artificiais, desengonçadas.
Devem estar em Acapulco...
E eu, indeciso entre a prosa e a poesia.
Buscando rebuscar meus vocábulos,
Indeciso. Que língua vou usar?
Que língua eu sei?
Como vou contentar a todos? Aqui e lá fora?
O cárcere já não me impede mais de sair, mas a linguagem virou minha nova prisão.
Queria escrever um texto sobre a rainha da bala Chita!
Com sua coroa de papelão, em seu trono de plástico, com seu sorriso largo dentes afiladinhos bochechas rechonchudas!
Ou sobre a morena do banheiro. Aquela que sobe no vaso e grita, um grito assustador, enquanto a água sobe sobe e se derrama por todo piso. Desce água! e desce daí! O de baixo é meu!
Mas o texto se perde no tempo. Fica na gaveta imaginária da minha cabeça.
Queria escrever um texto em escrita automática,
Mas ele fica tão certinho. Estou preso no academicismo. A Razão me pegou.
Solta, fia! Solta que eu sou macumba!
(Não que eu seja mesmo, mas a filha da puta não precisa saber)
Você já se sente nauseado de ler tudo isso?
Pode parar. A tendência é piorar. Sabe, eu não sou assim não. É fase. É frase... Tem crase?
Você continuou? Sabia. Você é meio masoquista. Eu também.
(mas você não precisa saber)
Tem um poema lindo também. Em decassílabos. Ou em decadêntibos...
Tá ali, na terceira gaveta do meio. Já sei, não botei a culpa no tempo.
Falta tempo, sabe? Tem tanta coisa. E a lama (ou a alma) vem depois.
Puxa, você deve estar pensando que eu sou maior deprê.
Nada não. Já até escrevi de flores e frutas, (ou fruta?)
(não que ele saiba que eu o trato assim)
Dizem que todo bom poeta usa uma frase entre parênteses e nenhuma entre parentes.
Bom, não preciso contar pra você, né? Mas já disse num outro lugar, não sou poeta, sou punheta.
Eu tava falando do poema, né?
Não é um desrespeito a gente começar a falar de alguma coisa e de repente ir falando outra e outra e não chegar a lugar algum?
fazemos o que p(h)odemos
O poema é uma elegia
(é esse que é de alegria?) Bom, se você quiser, pode ir procurar na Wikipedia. Se quiser ficar por lá e não voltar, tudo bem. Vou te amar mesmo assim.
A elegia é pros meus amigos. Tem o nome de cada um, e tem uma figura em forma de palabras que eu fui criando desenhando com sílabas e pincelando pontuações, em homenagem ao momento em que a dureza da vida se suspendeu, me vi no limbo, mas não sozinho. Era um limbo de algodão doce, todo azul-bebê e rosa, quente e doce na pele, um beijo na boca de Deus.
Era no meu aniversário. Havia sons, passarinhos, risadas, jazz, comida, bebida e muita gente que gosta de mim.
Pena que ninguém chegou até aqui. Até parece que eu não estou escrevendo o pior texto da minha vida. Nem parece que terminei um capítulo.
Se você chegou até aqui, parabéns e me desculpe. Perdoe a esse seu humilde criado das palavras os erros no texto. Não o reli. Ninguém vai ter coragem de fazê-lo.
Já te falei dos parênteses? Vai lá ver se os clássicos ou os modernos os usam. Usam nada. Pobres parênteses. São a pontuação mais triste da ortografia. Tem sempre alguém entre eles. daí, você diz, "ah, tem as aspas!", mas as espertinhas tão sempre por cima.
O poema elegia da alegria é alegoria? Calma. Tá aqui na minha cabeça. Um dia sai. Quando Calíope, Erato e Tália voltarem.
De onde? Só Zeus sabe.
E eu? Vou.
Onde? Só eu sei.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Aphorism for yesterday

In my big big belly
There’s a big big belly Button.
It can contain one or two universes.

Is someone pressing this button?
No. Someone is tapping on my shoulder.
“Hey, plain man, why don’t you come back to earth?”

And I answer
“Why did I go wrong?”
And I shrink.

domingo, 28 de setembro de 2008

Tudo o que eu não sou é/Everything I Am not is




Às vezes, a loucura beija minha boca. Ela escarra, mas tem gosto de caramelo.
Ela gosta de beijar meus seios rijos, mas quem não gosta?
Eu mesmo adoro chupar pintinhos e lamber xoxotas.
Sometimes madness speaks in an unknown language.
It may be the language of angels, but the topics are those of the devil.
I listen but I don’t consciously understand. I just store it.
Parfois, la folie chante une serenade d’amour
Non, elle crie et crie et je danse sur m’ombre!
Je pense et crie aussi, mais elle me fait taire avec un grand baiser dans ma bouche.
A loucura é como a lua, vai e vem,
Está sempre lá, mas, às vezes,
É cheia, às vezes,
Nova
The force which drives my drives
So softly, keep taking me to the edge
I embrace the warm breeze
Parce que ils ne sont pas
Un fait accompli,
Quel dommage! Suelement des rêves!
Quantos desejos infundados
Quanta crença, mal-direcionados
A nossa música nunca mais tocou
I welcome the ups and downs
As I can’t help them
Freedom has such a bitter tongue
Et la fantaisie se fait maladie
Une punition viens à l’intérieur
Et l’extérieur (peut-être pour vous)
Minha subjetividade
My subjectivity
Ma subjectivité
Quivers/danse/flui
The language fails
Quelque langue
Estou achando que estou perdido
Incompletely decided
Porquoi est-ce que j’ai tant de jouissance?
Onde estão eles ?

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Problema matemático

Quando eu era criança, éramos 3 e eu não tinha ¼.
Conforme fui crescendo, 3 virou 2 e 1 e eu ganhei ¼.
Percebi que era pouco integral, e pensei se não seria melhor dividir esse ¼.
Quando a equação zerou, tive que abrir mão de ter ¼. Novamente a divisão, com um número primo.
Só que um era positivo e outro era negativo e não formava conjunto. E queria voltar a ter ¼.
Mas eis que a situação se inverte, e eu passo a ter metade do 13. Isso me alegra, enquanto a equação se mantinha verdadeira.
Um dia, por subtração, perco novamente ¼. Fico dividido, mas ainda vale a pena.
Desde então, mais de 4 e eu não vejo ¼. Não que ele fosse necessário. Não ligava do conjunto ser aberto. Achava que nesta divisão, sem vírgula, não sobrava resto.
Mas eis que a soma se demonstra, até multiplicação.
Mas é raro ter conjunto vazio. E agora fico sem ½, esperando e desejando ¼.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Você deveria saber

(em algum lugar de 2006)

(...)

Sei que pode parecer piegas que eu esteja plagiando uma certa cantora cujo grande sucesso foi uma música com esse título, mas acho que um dos motivos de ela ter composto tal música se encontra na raiz do meu mal e na certeza que este me impinge: é necessário expressar certas coisas, mas de maneira que o objeto de inspiração saiba o que estou falando.

A primeira sensação que tenho é de uma inescapabilidade. É impossível, seja por reza brava, seja por meios científicos ou de qualquer outra natureza, conseguir apagar o tipo de sentimento que floresce dentro de mim por você. Percebi que existe uma maneira fácil de controlar tudo isso, manter dentro de uma jaula, calado, mas parece que uma eliminação completa se inviabiliza pelos enredamentos da vida.

Sei que você pode me acusar de utópico. Diria que tudo o que existiu entre nós é fruto da minha imaginação dita doentia. Mas não posso deixar de pensar nas coisas como seriam, de me ver em situações que te envolvem, em como eu faria pra gerenciar a minha vida em consonância com a sua, paralela, pra não ser invasivo, mas ainda assim, aniquilando a distância que você não se cansa de me impor.

Assusta-me vislumbrar que talvez eu ame você. E esse amor seria o do tipo mais raro, daqueles que não dependem do outro, não é condicionado, nem reação. Ele é sentimento puro, que existe, apesar de você. Apesar de mim e dos esforços que eu faço para que ele não exista.

O grande mistério da circunstância jaz em um fato que talvez faça esse texto soar como um instrumento produzido pela força da frustração, o que não é de todo errado, mas simplifica demais a situação: como você, que não faz exatamente meu tipo dentro das minhas exigências estéticas, intelectuais e políticas, pode estar tão presente no meu dia-a-dia, nos meus pensamentos e preocupações? Eis a terceira que coisa que me assombra mais do que as outras. Queria acreditar realmente no que dizem as pessoas, quando elas afirmam que o que eu sinto por ti é motivado pela carência de estar com pessoas. Mas a equação se anula a partir do momento que há outras pessoas, há outras chances, e elas não são suficientes pra tapar o buraco que você deixou, nem quando elas não me fazem sentir o que eu sinto na sua presença!

Dentre as dúvidas sobre o momento em que errei, qual passo em falso dei, ou qual palavra mal colocada foi lançada no vácuo que nos separa, fica a certeza que por mais que seja emancipatório e libertador te escrever estas linhas tão cheias da dureza que a situação pede, ainda que a ternura tente invadir, a cada sobressalto que dou, a cada palavra escrita, fica mesmo esta certeza de que parece ser inútil, inócua, afinal, eu vou estar sempre onde não deveria aceitar estar: às margens da sua vida, anos-luz do centro do seu universo, na soleira da sua porta, na primeira fila, que seja – lugar privilegiado –, mas desejando estar no filme.

domingo, 24 de agosto de 2008

Hands on

As I feel your body approaching
The head vertiginously spinning
My ears buzzing
The nostrils expand and I feel the smell of lust
Put your hands on the table

My arms get heavy and, paralyzed, they tilt
My fingers throb.
As I touch your flesh, I hear it crackle
It burns, it stiffens. At my command.
Put your hands on the table

I clench my fingers and they feel like embracing Desire itself
I bite your lobe and my tongue is traveling around it and beyond.
When the hairs of your forearm gently touch and intertwine with mine
You realize my presence. Too late.
Put your hands on the table

I get to know what you are, wholly, I have a hundred hands,
But more importantly, you are sure of it and fear not.
All impediments turn to dust.
I strip off all the morals and inhibitions, I crystallize the moment.
I tame my shame and not the other way around.
I am a hopeless slave to your handsomeness. But what a disguise!
Neither your body nor mine can contain it. I boil, you burst.
Put your hands on the table

I disalienate, I see and show. The self merges for an instant.
We fight, we see death and grin. I dive in after you.
But elude yourself not . I lead the dance.
Put your hands on the table and leave them there

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Enjoy The Silence

To you, beloved

Prologue:
I guess Depeche Mode by the talent or whim of Martin L.Gore (hopefully unrelated to that Demo guy) has already said all I wanted to tell you, so I am going to use it as the basis for my text to you.

"Words like violence
Break the silence"

Am I invading your thoughts? Asking you to say the unsaid? The unsayable? You are just floating and fantasizing and violence keeps bringing you backdown to earth, tainting your soul with punching words...

"Come crashing in
Into my little world"

Who are we but little man who think themselves Big? You came along when I was not ready, you didn't say a word but your eyes did. You spoke none of my flaws, you revelled in my companionship, even though I had nothing to say. You saw me bigger than I really was, than I really am.

"Painful to me
Pierce right through me"

The words are stuck in there. and you feel them lies when they come out. no, a gag is not a blindfold. But who cares? your tender lips and caressing hands do not have to talk to my needy hips and neck, do they?

"Can´t you understand
Oh my little girl"

I guess she couldn't. Or I couldn't. So far.


"All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm"

Do I have to describe it? Put it in a frame of concepts that are going to crystalize and die out as soon as they are born? You transcend any definition, you are estrangement, discomfort that makes one try harder. You do not demand anything and in doing that, by letting free and easy, you got me self-arrested. I didn't have to say anything to you or anybody else who will think it not cathartic enough, because in the act of praising the wordlessness, I get wordy...

"Vows are spoken
To be broken"

I guess this is just the dialectics of life, the lesson. The promise brings in it, two-facedly, its potentiality to be broken, its will to be so.

"Feelings are intense
Words are trivial
Pleasures remain
So does the pain"

Not that we should no longer talk. This is not an apologia to going back to nature and grumbling. But it is a sign that what we have is bigger than any discourse, than any materiality, it is also spiritual, and don't take me as a methaphysicist. For what gives me spasms of happiness is what can give me spasms of pain, and who consciously and willingly would sign up for the pain?

"Words are meaningless
And forgettable"

What is a good memory for? Don't I remember only what I see and don't I see it differently from you? A smile and a kiss, a hug and the smell, don't they give us much more to be remembered?

I won't repeat the chorus. Since I am not sure any of what I said is what I wanted to say. Guess I have just cast myself to rethink and rewrite everything. Maybe all I have just written was not what I had written and maybe I have been changing this text for such a long time I could rewrite it, and the meaning, the real meaning would not come. You are a riddle, and so am I. Who isn't? But I have been learning so much. Want to know what I really feel? Come here and I show you. Put your hands on the table and let me do the rest.

"Enjoy the silence..."
You, me... everyone!
And embrace it. Not all the time, not at all.

domingo, 6 de julho de 2008

spasm

it's over baby, it's over

you ain't deserve no line in here
no poetry for you, I should bid you farewell

Cry and feel the honey-like pity
I am turning a blind eye
They are calling me and I shall go
May not return

But you baby, keep on holdin' on
keep warm and dry
Have you heard my last lullaby to you, darling?
It told about nature and the space
About the future
Not about creation
Nor poetry

Just the game
Baby
Just the game

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Maze of Libido: fragment 3

And at the beginning was the Verb. A lot of it.
Some days later, I was just talking to this Eden exiled.
I had everything but certainties yet, against all odds I got in.

I doubt we could have given the forbidden love a local habition and a name.
But it was magical, more, it was logical and intellectual.
I guess I must have or indeed put a spell on you, but you were never mine.

You couldn't have been, maybe with time...
You've always been bigger than the universe, faster than a ray of light.
You meant freedom even when I had one hand in my pocket and the other one
was helping you bend forward and you were convincing me that hips don't lie.

I saw then I didn't know how to dance so slow to follow you.
Suddenly I see there came silence. No careless whisper as some things can't be said but whispered in the half-light. Distance, a dark night of the soul. For you were made of star dust and sparks.

I saw you spread your wings and I tried to see myself different from that helpless boy torn and left in an empty garden.
Then, I saw the sign. You were back for good, I had to take that. But how should one feel?

Luckily, the mirror has two faces. At least, mine has. So I didn't have to practice that much on how to transform the ugly duckling into narcissus.

And now, the future, damn it, some say it is murder others, just the beginning. And at the beginnig was...

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Maze of Libido: fragment 2

If only I could find behind your fancy glasses and your childish smile
What I was looking for at that time.
If only those very glasses were not disguising
somewhat straying eyes.
The smile would melt into the promised happiness,
opening lips that would search all about me.
If only I could have built more floors, greener gardens, glassier skyscrapers!
But there we are, staring at each other, out of reach, hugging and pecking but the cold!
We have made history, I see it and so do you;
But yet... un-born dreams, aborted, deliciously tasted but given up, consciously.
Flashes that will no longer repeat themselves, for you are still here and gone, and I, soon, will be too.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Maze of Libido: fragment 1

Intelligence is a moral category. The separation of feeling and understanding, that makes it possible to absolve and beatify the blockhead, hypostasizes the dismemberment of man into functions. Praise of the simpleton has an undertone of anxiety lest the severed parts reunite and put an end to the derangement. ‘If you have understanding and a heart,’ a verse of Holderlin’s runs, ‘show only one. Both they will damn, if you show both together.’

Theodor Adorno, Minima Moralia 197 (“Wishful Thinking”)

Feast on Scraps

(algum lugar de 2006)

Eles jogam migalhas,
E eu aceito.
Eu como.
Eu lambo para que não sobre nada.
Eu tenho fome.
Uma fome crônica:
“Venham para meu estômago
Meus filhos!”
Eu tenho fome.
Mas eles não percebem
Porque eu devo não fraquejar.
Mas assim que eles se viram
Eu avanço nas migalhas.
Que são apenas fragmentos
Daquilo que eu não posso
Ter inteiro.
Minha fome me consome.
Mas sem ela,
Fico vazio.
Aprender a pescar
Ou depender das migalhas?
Um banquete de segundos roubados
De momentos unilaterais
De masturbação cotidiana
Eu tenho fome.
Vitalícia e vital.
Vitimante.

domingo, 8 de junho de 2008

Quarto escuro

(do passado, mas presente)

Ora, não é que minha vida se torna de novo um quarto escuro?
Que eu tenha que me ver novamente tateando em busca de alguma coisa que não sei direito o que é.
Minha vida volta a ser a parábola da caverna, mas diferente, porque não vejo sombras, ou melhor, tudo é sombra.
Não me sinto sozinho. Ouço os gemidos de devassidão ao meu redor. Me sinto um animal. Mas ao mesmo tempo, sou humano, mais humano do que jamais havia me sentido.
Sim, tenho consciência de mim, das minhas sensações, tenho consciência do meu lugar ali, da minha alegria, sinto amor ao meu próximo e me entrego a esse amor, como quem se joga ao mar. Ele me agarra, me envolve e me expande. Eu sou do tamanho do mar, mas sou poeira do universo. Porque penso. Ou sou pensado.
Busco a negação, porque percebo que eu sou uma ilusão. Não sou vítima nem algoz, mais algoz do que vítima, sim, eu sou. Mas acima de tudo, antes de ferir aos outros firo a mim mesmo. Sou uma grande cobaia das minhas experiências mais cruéis, e exulto quando elas dão certo.
Viajo e não saio do lugar. Me expando e volto a me encolher, só pra me sentir menor do que antes.
Busco e esta busca traz frutos doces, que ainda assim deixam um gosto de podre na garganta que nem um litro de minhas lágrimas inexistentes poderá fazer passar.
Provoco, queimo, odeio, caio e levanto. Preciso de você, mas não sempre. Às vezes, preciso de mim. Será que um dia vou não precisar de você? Mas é um prazer te conceder a minha companhia... será?
Sou fútil, leviano e superficial, de novo, e ainda assim os meus amigos e os meus inimigos me dizem que sou inteligente. Acho que sou os dois, então sou do pior tipo, da pior espécie, da pior laia. Mas sou apaixonante, sou uma graça, sou leve, sou como um sopro de brisa numa manhã ensolarada e morna. Mas balanço como o galho das árvores.
Eu quero ver! Mas está tão escuro! Por que eu entrei aqui? Quero me tornar um semi-deus! Quero transcender e... e..., é, por enquanto, é só isso...

25-10-2006. À noite.

domingo, 11 de maio de 2008

Domi(re e veja)ngo

Eu perambulo pelo centro. Sei qual é meu destino. O vento frio de maio castiga minha face. Vento cortante. Sob a proteção de duas blusas eu tremo. Depois de ter bebido doses de verdade e de poesia, eu ando pela Consolação sozinho agora, e tento não deixar que a luz amarelada dos postes penetre na minha alma. “Ai companhero, não teria uns 20 centavos pra me ajudar?” Eu me fecho como uma concha ao toque, como uma tartaruga que se recolhe ao casco. “Não não tenho!” e ora que havia acabado de mirar o abismo, acabado de perceber onde estava de fato, de maneira figurada. E não faço nada. Continuo caminhado paralelo aos montes de cobertores finos e embolados que deixam aparecer um pé desnudo sob o chão frio da calçada. Nenhum movimento. Haveria uma, duas pessoas? Quase um ano e eu quase nunca ando pelo centro à noite. E quando ando, sinto a poesia me dominando. Os porteiros que trabalham neste domingo noturno que preludia uma alvorada semana de labuta, fria madrugada se anuncia. Eles passam aos pares, rindo, por vezes, de toca ou cachecol, olhares atentos, fechados, tá-olhando-o-quemente. Cachorros de casaquinho (e os vinte centavos de bermuda, me recordo). Jovens, velhos, e logo o vinho e o piano invadem meus sentidos na esquina da Avanhadava com suas luzinhas, sua fonte ininterrupta no calor ou no frio. Parece a Europa. Passo pelos valetes que sorriem para os carros filmados e para os taxis. Olho para o restaurante de seis talheres e duas taças. Os cabelos brancos se empanturram. Velas tremulando sobre as mesas me lembram da vela que acabara de apagar lentamente sufocando a si mesma. Mais sorrisos, e o silencio da noite e do vento e dos pensamentos cortado por um grito de mulher: “Feliz dias das mães”. E eu longe de minha. Mais cobertores pelo chão, sob o viaduto, bem iluminado. Haveria duas, três pessoas ali amontoadas? Difícil dizer. A raiva me esquenta. Tiro as mãos dos bolsos e as deixo pendendo. As janelinhas dos prédios brilham em colorido de imagens que vão se alternando na velocidade da luz. Chego ao meu destino, mas a noite lá fora espreita.

domingo, 4 de maio de 2008

Début

Les mots
Volent libres
Quelqu’un l’a dit
Comme des bulles de savon.
Mes rêves
Où mes mains les peuvent
atteindre.
Mes tristesses
Elles restent dans l’air
Mais elles ne peuvent pas
Sortir. Me délivrer.
Mais je ne suis plus triste.

Seule. Simple.
Une fleur. Un oiseau.
Les images sont très
Banale.
Combien de temps jusqu’à ce que je...?

Le silence d’élève. Je ne sais pas. Rien.

J’ écris et
Tout est cliché!
Je m’en fous.
Je danse la petite valse,
Je souris.
Je ne cours pas.
C’est juste le début.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sorriso


Quem disse que eu não podia
Recuperar um sorriso?
Das profundezas de onde a vida coloca a gente,
Do fundo do poço de angústias,
Diretamente da outra dimensão que chamamos de passado.

Sonhos, projeções e irrealidade?
Conflitos. Loucura. Marginalidade.
(Odeio a vida nessa cidade)

Eis que no meio do caos
De matéria-prima duvidosa, visto que é como chama,
Embriagando os sentidos numa explosão
(Antigamente isso era compulsório, hoje não)
Faz-se presente um aviso de incêndio.

Pra alimentar minha saudade
Pra aumentar a minha vontade
De que volte aquela que nunca se foi.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Queda


O menino olha pra tela e vê o cursor sumir e aparecer. Por apenas alguns segundos ele se sente piscando para vida e tenta começar a escrever e não consegue. Antigamente, quantas folhas já teriam sido jogadas no lixo, após infrutíferas tentativas de criar, de transformar um vazio em algo com significado, com classe! Dar forma ao que é tão caótico, seus sentimentos, seus desejos. Ele sente os sentimentos e os desejos, correndo pelas veias, à flor da pele. Ele sente e deixa que elas formem uma bola em seu estômago, para que os dedos possam regurgitar, mas é como se os dedos empedernissem. O menino tenta, mas as palavras saem cruas, saem doloridas. Ele tenta tecer o texto, mas o menino é a Penélope. Tece e desmancha, antes mesmo de tecer de fato. As idéias se embaralham. O menino se sente perdido. Ele quer falar, mas a voz não sai. Daí, ele tenta gritar e o grito sai disforme,e o assusta. Ele busca os tesouros dentro de si, mas só encontra portas fechadas, plaquinhas de fechado pra almoço. Ele busca tempo para refletir e cozinhar as idéias, mas ao ver-se deparado com sua tela, com seus instrumentos e pincéis, ele olha para o beija-flor na janela, e fascinado pelo seu farfalhar de asas, o menino se perde em pensamentos. Quando se percebe no lugar onde está, o menino tem de ir. Ele não se sente Narciso. Ele olha pra sua imagem em forma de palavras, ele enxerga seu reflexo a superfície e nas profundezas do que escreve, mas ele não consegue se perder. Ele sente fome, e vai-se. O menino torna o nascer do sol em eclipse. Ele se sente eclipsado e nas trevas, ao invés de aproveitar o escuro para poder tentar inventar a luz, ele fica só ali, semi-dormente. O menino tenta se enganar, que o que havia ali se foi, ou que a lagarta-escritora virou uma borboleta-acadêmica, mas ele se perde como lagarto e como borboleta e sente a miopia de quem tenta se enxergar e não consegue. Onde estão seus óculos, menino? Onde está a inspiração, que permite que você tenha material sob o qual poderá trabalhar e criar? As musas devem estar de férias, ou se mudaram. Que se mudem as musas. Bota uma plaquinha, menino! Vou ditar: Precisa-se de inspiração. Paga-se bem, com Beleza e Graça. Sorte que você tem a Internet, né, menino? Bota lá o anúncio. O menino não tece, ou melhor, ele tece e desmancha, ele tece e se entristece. Mas parece ser uma tristeza insossa. Tente alegrar-se, menino! Levanta essa cabeça! O menino se alegra, mas é alegria de domingo, preguiçosa e antecipante do seu fim. Alegria inodora. O menino tenta refletir, mas os pensamentos são frios, são apenas pensamentos e eles não se permitem virarem forma, são lodo, escorregam por entre os dedos da memória. Razão pura, sem imaginação, só veracidade, sem mediação, insipiente. O menino dorme mas não sonha. Ou, se sonha, ele não lembra de seus sonhos. Mas o menino se imagina no útero, com placenta e tudo. (Mas como o menino consegue imaginar se privado de Imagination? Seria Fancy?) Talvez um dia ele renasça!

domingo, 9 de março de 2008

Vênus em escorpião

Caro Sr. R...

Venho por meio desta e com todo prazer dizer que gostaria muito de mandar-lhe a merda. Simplesmente porque você foi desagradável o suficiente para me criticar em algo que é incriticável. Vou explicar o meu ponto.

Segundo sua pessoa, faço parte de uma espécie de pessoa que tem o irritante hábito de perceber a realidade por um prisma um tanto quanto distorcido. Vejo tudo pelos olhos de Eros, tinjo tudo com as cores da paixão carnal, das ambiguidades discursivas, deixo o sexo invadir cada fresta e parte do meu serzinho, uma ontologia que deixaria Freud orgulhoso. Mas estas não foram suas palavras. Segundo você, com todo respeito implícito na frase: “You are a bitch”. Bom, colocado nestes termos, com a licença poética dos pedintes, dada ênfase à sua entonação peculiar, “Eu podia estar ‘robando’, eu podia estar ‘matano’, eu podia estar paquerando, eu podia estar transando, mas estou aqui, escrevendo pra você” com o intuito de te esclarecer o que as coisas são de fato, para que no futuro você possa evitar enunciar certas frases descuidadas que só servem para aborrecer o ouvinte e... Bom, deixe-me parar de me justificar e ir direto ao ponto.

A princípio, eu não me aborreci com o que você falou. Mas foram palavras (não necessariamente sábias) que me fizeram refletir, pensar por dias e dias, reparar nas minhas atitudes, desde as menores, e cheguei a uma conclusão. Vou enumerar os argumentos para que você possa seguir cada um com bastante cuidado e, na pressa de ler tudo logo, não pule nenhum. Veja que, mesmo contrariado, busco fazer o melhor pro meu caro leitor.

Primeiramente, queria dizer que vivemos numa era da imagem. Somos filhos da televisão. Nossa mãe bastarda. E nela, o que impera é a propaganda. Uma das grandes rainhas da pós-modernidade, ela resolveu apelar para o que havia de mais puro dentro de nós, de mais primordial e eis que o sexo está em toda parte. Qualquer produto pode ser associado a ele. Corpos, desejos, possibilidades. Você vai ficar bonito, você vai ficar legal, você vai ficar o que você quiser desde que adquira já este produto. Folheie uma revista qualquer. Veja se nas fotos, nos olhares fulminantes e nas bocas carnudas. Você não vê o sexo? Mas dizer que tudo o que influi são as propagandas, que por anos e anos vão ajudando a moldar nossa subjetividade, não basta. Vamos além.



Segundamente, vivemos numa era de satisfação rápida. Tudo precisa ser pra ontem. Tudo precisa ser agora. Um olhar vira um enlace de mãos, que vira um beijo ou qualquer outro contato, que vira uma explosão de luxúria, que finalmente vira só um fragmento, um episódio. As formas de satisfação vão se multiplicando, e vivemos a era da monomania. A era dos prazeres viciosos, porque fora deles a vida é tão insipiente, tão torpe e insossa. A vida vira uma grande adolescência, e a adolescência se resume a uma grande busca pelo prazer. Religião e hedonismo se misturam, se confundem. Ave meu corpo, cheio de músculo, bendito seja vós entre os homens e as mulheres, bendito seja o fruto de vossa malhação, capa de revista. Santa cosmética e moda do ano roguem por nós, lindos e maravilhosos, agora e na hora que alguém estiver olhando, amém. Dessa forma, como não se deixar levar pela explosão e pela força viciante que tem o calor de outro corpo, a possibilidade de poder se locupletar, de se masturbar a um, a dois, a três. Afinal, o que se tornou a instituição sexual hoje senão uma grande arte masturbatória onde a presença do outro é sempre secundária e espectral. Você tem que ter a performance perfeita, mostrar serviço, mostrar que se importa, que se interessa, que consegue, que é igual a todos os outros que vieram antes. Você você você... cadê o outro mesmo?

Terceiramente, pra minha sorte ou azar, acabei por deitar minhas mãos em um livro muito interessante, não que tenha sido extremamente loquaz em seus argumentos de forma a me convencer e imputar-me novas crenças, mas sim, parecia um espelho em que se materializava aquilo que eu pensava: que o sexo pode ser visto como uma libertação utópica. Num mundo todo coordenado e administrado, tudo controlado pelas instituições, nossa vida toda sendo invadida pelas ordenações objetivas que vão se subjetivando e nos transformando em zumbis. Daí, vem um tiozinho e fala que o sexo pode ser um dos primeiros passos para a libertação deste sistema. Um ponto onde o controle não podia se impor de forma segura e por isso mesmo, poderia permitir uma virada. Reflexo ou parte disso, temos os anos 60 e 70! Viva os hippies? Não, mas eles deram um grande passo em uma outra direção. Daí, você me perguntaria, por que eu não me torno um neo-hippie, com roupas hippies, vivendo hippiemente. Bom, porque acho que só isso também não vai servir pra solucionar o dilema. E porque tivemos os anos 80 e 90 aí no meio. Precisamos de mediação.

Quartamente, ainda que ligado aos dois fatores anteriores, antes de consolidar repressão e tabu, pode-se conhecer o que é o sexo. Bem na fase de consolidação, de construção de identidade, e não me refiro agora ao todo (apesar de saber que muitos passam pelo mesmo), pode-se ter acesso precoce ao mundo do prazer. Assim, intervalos de irracionalismos não me assustam. Animalizar-me não significa perder-me, ainda que hoje em dia, abrir mão de todo o aparato racional seja quase apenas possível em um instante. E pra se somar a isso, está meu amor pela Beleza. Ela me cativa, tudo aquilo que sinto ser elevado me toca, mexe comigo, me apazigua, me alimenta. E por ter perdido o tabu e a repressão, não me seguro pra ter, pra compartilhar dessa beleza, frui-la na forma que for possível. Usando de todos os sentidos em algum sentido.

Quintamente, segundo meu mapa astral, tenho Vênus em escorpião. Sabe o que significa isso? Em termos astrológicos, é misturar coca-cola com mentos, bicarbonato de sódio e vinagre. Sei que você diria que tal argumento é inválido, mas o importante é notar que meu critério aqui não se refere ao que você acredita ou não, mas às diversas possibilidades e explicações existentes para que você veja que as coisas são um pouco mais complexas do que parecem ser no momento, que eu falo mais do que faço, que controlo e ao mesmo tempo, não consigo controlar o que sinto, ou nem quero.

Termino com saudações cordiais de quem sabe que você diz o que diz mais pra você mesmo do que pra mim. E de quem vai continuar a ficar tão animado quanto possível, ainda que nunca ingenuamente, com o prazer que tem.

The tone

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Diálogos III

Platão: Soube que você tem escrito alguns diálogos, é belo?
The tone: Sim senhor. Por quê?
Platão: Simples. Com que autoridade você os tem escrito?
The tone: Sob a de ninguém. Tem que ter a sua permissão?
Platão: Não! Mas tem que manter uma certa propriedade. Por acaso seus diálogos apresentam uma estrutra dialética, no sentido clássico?
The tone: Na verdade, não sei. Só que sinto umas coisas, uma sensação de divisão, uns dilemas. Daí, começo a escutar duas vozinhas na minha cabeça. Cada parte de mim, cada papel social que eu assumo toma voz e vai dando sua opinião.
Platão: E você chega a alguma conclusão?
The tone: Normalmente, duas vozes, as mais extremas são as que se sobrepõe às demais, intermediárias. Os extremos crescem, como se um elevasse o outro. Como se tivessem atrelados ou algemados. E o dilema vai se intensificando. Fico realmente divido. Como diria um amigo, viro sujeito cindido.
Platão: Mas daí, com quem você conversa?
The tone: Eu busco materializar um aspecto das minhas dúvidas e angústia em uma figura externa que faz parte da minha vida. Alguma figura com a qual eu gostaria de discutir aquele ponto específico, apesar de saber pouco ou nada deles. Na verdade, nao converso com o que eles são, mas eles sao apenas partes de mim, sabe? É como se eu estivesse conversando comigo mesmo.
Platão: Mas e a conclusão? A síntese?
The tone: Bom, essa está sempre alem do diálogo. Este só existe porque a sintese ainda não veio. É apenas a externalização da pergunta, não da resposta. Não tenho a resposta, e nem sei se ela existe de fato.
Platão: E o que você me diria de dialogar com o que as pessoas foram, quero dizer, com o que elas escreveram, ipsis-litterimente?
The tone: Acho que pode ser uma outra alternativa, um outro modo de dialogar, mas daí, não estarei dialogando propriamente com minhas indagações mais profundas, e sim, com algo que vem de fora e me atinge, mas não estou fechado para isso.
Platão: Falando em fechar, acho que está na hora de terminar este diálogo. Você sabe como fazê-lo?
The tone: Não. Nunca sei como terminar. O senhor me ensina?

Conversão

Na esteira de quem está recuperando um pouquinho do passado, um poema-confissão que mostra um poucão de quem eu fui e um pouquinho do que ainda sou.


Mais uma busca chegou ao fim.
Não quero. Não gosto. Não falo. Não posso.
A dor dá lugar a um novo matiz celeste.
As estrelas são outras. Mudam-se os santos.
Porém os velhos hábitos encalacrados e livres dentro de mim flutuam
Livres, dentro de uma prisão que sou eu.
Serão expurgados, e levados com o resto do lixo que repousa na sarjeta pela manhã!
È hora de mudar e de decidir,
Novos processos que levam a novas preocupações que desembocam em novos resultados.
Uma versão melhorada, ainda que carbonada, de mim.
Velhos amigos que retornam, velhas feridas, já cicatrizadas. Velhos hábitos que retornam.
Porém devo dar a eles uma nova roupagem, já que são diferentes em essência.
Chega de reformas! Estou cansado de simples arranjos que me mantém o mesmo que eu era e fui há anos!
Só a Revolução vai mudar o que sou! E ela começa aqui dentro.
Invoco a quebra, a ruptura com a mesma sede e devoção de quem invoca um Deus.
Me fecho, implodo, depois explodo e renasço.
Vou ser além de mim. Logo... Agora.

26-10-2006. Ônibus na Rebouças. 17:00

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

escrita automática

(uma amiga nos inspira e a gente tenta...)

Sento aqui pra escrever um texto e não sei se estou escrevendo o texto ou se ele está me escrevendo sinto a mão pousar sobre a pena e percebo que a pena não existe o que é uma pena porque eu vou digitando maquinalmente na maquina que não mente se quem mente é quem sente e a maquina não parece sentir e as letras vão pulando no compasso do meu coração que fica batendo mais devagar e mais rápido tentando acompanhar os movimentos dos meus pensamentos e eu viro para olhar ao meu redor e o texto continua a me escrever e a me inventar e eu me vejo inventando desculpas para tentar me explicar e vejo que não me entendo pois ajo de uma forma que não deveria e o sol entra pela janela apesar de ser noite e eu não consegui dormir pois quem dorme não entende que a vida passa rápido e tudo parece ser externalidade e fugacidade e já não adianta mais prestar atenção nos cabelos brancos que despontam nas têmporas já que tudo vai passar e logo eles vão estar brancos e pretos e amarelos e azuis correndo comigo pelo universo cavalgando num cometa qualquer em direção a buracos negros e eu sinto que um está me puxando a ano-luz daqui, ou seria ele ali na minha cama rindo pra mim e me puxando puxando sugando e suando e na hora que eu chego perto ele vira uma supernova e não ri mais porque ele está namorando por aí e eu aqui sozinho com o texto e com a pena que já voou pela janela mas sempre volta como um bumerangue para mostrar quantos livros eu ainda tenho que ler e quantas horas eu ainda tenho que trabalhar e o suor pinga da minha testa e molha o solo arado pelos meus pensamentos e as sementes parecem demorar tanto pra vingar e o amor não chega pois acho que ele pensa que eu já não estou mais aqui, que eu mudei pra antártida onde tudo é frio menos a minha vontade de ser e de entender o mundo e a mim mesmo e eu vou tentando entender e nunca entendo e decido cavocar mas nunca consigo cavocar sozinho daí uso o telefone pra poder falar com deus e fica só dando ocupado porque acho que todos querem falar com deus e eu decido falar com o diabo mas ele está de férias e eu fico sem falar nada e sem cavocar só olhando por cima pra ver o que eu quero pro meu futuro que é algo que não existe igual ao passado porque tudo é uma grande especulação e memórias de impressões tingidas de tinta-sangue subjetiva um amontoado de irrealidade real porque não existe nenhum lugar fora da ideologia nem pecado ao sul do equador e eu fico martelando sentimentos que não são meus e fico vivendo dores alheias porque tenho medo da chuva e tenho medo do escuro e tenho medo do texto que não para de me escrever e de me mostrar que não tenho tempo de escrever e de amar e de voar e de intelegentiar e tem uma menina apontando pra mim e dizendo que eu sou inteligente mas ela não sabe que eu sou apenas uma fraudezinha que sabe fingir direitinho e que quer se libertar das amarras das coisas que não sei fazer porque quero fazer mais agir mais e ter um valor social mais adequado ao invés de ficar aqui sendo escrito e a chuva caindo lá fora e molhando a cabeça de quem não tem teto e sinto raiva e vomito alguns gnomos que pisam nos meus olhos e me fazem dormir.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

"Haikais" do busão

O significado vai
O poema fica.

A corrupção é toda política
A política não deveria ser nenhuma corrupção.

A beleza é como vinho
Alguém viu minha garrafa?

A vida é como uma árvore
Frondosa e lampeira
Ma-deeeei-ra!

Quero corromper a linguagem:
dkjkdjsdjiwkldsjdioeajem

Natureza sem dominação
Só em sociedade em reconciliação.

Não sou poeta
Sou punheta.

Eu sou mais eu!
Atenção: a função sujeito está indisponível
no momento. Favor tente mais tarde.

Alteridade sem medo
Eis o segredo.

A vida é um jogo de baralho
Solta minha mão e pega no meu pé.

(variação) A vida é um jogo de baralho
Alguém viu a rainha de Copas?


Agora estou num contato transcendental com o Numenon
o Universo está me mandando uma mensagem...
Vem de dentro, vem de fora?
nao... era só um peido mesmo...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Diálogos II

The tone: Sabe onde fui hoje?
Marcuse: Não sei. Poderia me dizer?
The tone: Fui à festa de comemoração da vitória da escola de Samba Vai-Vai.
Marcuse: Ah, o carnaval. Linda festa, não?
The tone: Um pouco, mas bom que senhor tenha tocado nesse assunto. Só tinha gente horrível lá! Por que pobre tem que ser tão horrível?
Marcuse: Explique melhor. O que você quer dizer com horrível?
The tone: Ah, não sei. Gente mal vestida, corpos flácidos, dentes podres, tortos, mau-cheiro. Desproporções. Hábitos levianos.
Marcuse: Mas você parece estar enumerando elementos deveras aleatórios. Não sabe que todas as normas culturais, como a higiene, a precisão ou a pontualidade, ou inclusive um determinado ideal de beleza física são meros construtos de uma classe dominante loira, alta, de olhos azuis?
The tone: Quer dizer que eu estou sendo um pouco tendencioso e estou analisando as coisas de uma perspectiva presa a essa moral estética capitalista?
Marcuse: É o que parece.
The tone: E isso tem cura?
Marcuse: Infelizmente, nos moldes da sociedade atual, só através da loucura.
The tone: Então, enquanto não enlouqueço, vou vivendo vinicius-de-moraismente e achando que com o perdão dos feios, beleza é fundamental.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Diálogos I

The tone: Desculpa, d. Marlene, a senhora poderia cantar aquele pedaço de novo?
Marlene: Claro, e você pode me chamar de Lili. (ela começa a cantar)
"Such trying times, such trying times Why do we live in such exasperating times?"
The tone: Puxa vida!
Marlene: O que foi?
The tone: Quando é que a senho... que você cantou essa música mesmo pela primeira vez? Marlene: Em 1963.
The tone: Ah!
Marlene: Por que percebo certo desapontamento?
The tone: Porque já passou tanto tempo, aconteceram tantas coisas no mundo e eu ainda acho que ela está toda atual.
Marlene: Mas preste bem atenção. O refrão é esse que cantei para você, mas a música em si fala da história de um amor. Será que as pessoas vão entender que ela é sobre o mundo?
The tone: (suspiro) É, você ja ouviu falar da alegoria? E da teoria da parte e do todo? Isso fica martelando na minha cabeça.
Marlene: Da primeira sim, mas a segunda conheço apenas superficialmente. Por quê?
The tone: Por nada não. Só te digo que com essa música, nao dá pra dizer que quem canta seus males espanta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Duas pequenas flores

às vezes eu me pego meio piegas
quero abraçar todo mundo e quero fazer cafuné
às vezes eu quero ser romântico
do tipo daqueles do velho mundo do velho tempo
às vezes eu me vejo cercado de pessoas bonitas
por dentro e por fora
almas justas e sublimes
às vezes consigo escrever um poeminha
coisa simples, sabe?
Pra brincar com a linguagem
pra fingir que fui poeta, amei
pra homenagear duas divas
ou melhor, uma Diva que vi
e uma outra que Vivi
Como o jardim das idéias estaria mais triste
e mais simples
sem essas flores de candura
Mas elas ainda têm que me ensinar
sobre o fim
às vezes eu me pego sem saber como terminar...

Intermitências

O que fazer enquanto esperamos? Esperamos o próximo ônibus, o próximo pagamento, o próximo final de semana. O próximo encontro. O que fazer enquanto esperamos o próximo texto a ser postado, a próxima cagada? A espera.... ela é monótona e vazia. Ela é cheia de estou-aquis, que fingimos não ver, pra dar luz aos quero-estar-lás.
Esperemos a morte, a nova vida... esperemos sentados ou de pé!
Esperemos fazendo ou só esperando mesmo.
O que parece ser às vezes é!
Logo logo!
A espera acaba! daí começa outra...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

eis o mundo!

Dizem que o mundo é mais ou menos isso! Será que conseguiremos fazer um outro mundo?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

retrato de um (pseudo) artista quando jovem (ontem)


(um velho pedaço do que eu já era, meses atrás)


Podia começar com as boas vindas: bem-vindo ao deserto do real!
Eis-me aqui, nesse ponto, olhando pra fora da janela e olhando na verdade pra dentro de mim. Eu já sabia a resposta das perguntas que eu me fazia. Não queria saber pra onde vamos, ou de onde viemos... queria saber por que não eu, ou por que eu quero tanto e as pessoas não me querem. As respostas estavam nos livros que eu estava lendo, estavam na minha cara, nas conversas nos bares, nas novelas, em todos os lugares. Será realmente que mesmo quem pensa que esta vendo o que está acontecendo está de fato? Será que eu consigo fugir daquilo que a minha geração é? Será que realmente eu sou tão especial que eu consigo fugir das minhas determinações, e me ver como sujeito transformador da realidade, que eu custo pra enxergar?
Querer o mais rico, o mais bonito, o mais.... buscar o melhor pra ter a felicidade, nem mesmo sabendo o que fazer com a crítica a tudo isso. Achando isso tudo muito lindo, fechando a capa e fazendo igual... Escrever lindas coisas sobre a alienação, sobre a coisificação das relações humanas, sobre o fetiche das imagens e sobre os mitos modernos da mercadoria, e depois de tudo isso, ainda achar que as pessoas vão gostar de você pelo seu papo, e não pela sua grana ou sua aparência. Uma dica: coloque-se no seu lugar. Enxergue que as pessoas querem mais e o novo e estão vazias, cada vez mais perdidas, ilhadas em si mesmas. Sentem-se os deuses que substituem os deuses que morreram. São a origem do mal e a redenção. Megalomania e prepotência. Você pode, acredite, você vai conseguir, você, você... critica tudo isso, mas fica horas contando sobre como foi seu dia e a sua semana e como está seu coração. Fica implorando por carinho, fica se dando de bandeja, para aqueles que te exploram, te roubam, te aviltam. Cria fantasias e se vê superior a todos, coloca uma máscara de desprezo por eles, mas a noite, olha pro telefone e pensa pra quem vai ligar hoje pra poder chorar e reclamar.
Coloque-se no seu lugar e não que este lugar seja algum lugar feio e frio. Só perceba as pessoas antes de agir. De que lugar elas pensam que estão falando se ele realmente condiz com a realidade, ou se é a tentativa de um míope de ver além. Lembre-se: a ideologia adora se auto-ocultar e se naturalizar.
Você acha que ele é areia demais pro seu caminhãozinho? E me pergunta por que eu gostei de você. Acho que na sua pergunta, já está a minha resposta: gostei de você porque te achei areia demais pro meu caminhãozinho e provavelmente ele também seja pra você, senão você não quereria tanto estar com ele.
Eu aqui achando que eu sou o problema e não percebendo que todos os indícios apontam pra uma sociedade doente, a beira de um colapso, e em busca das coisas erradas, de algo que não vai ser concedido, simplesmente porque não existe.
Devo rir disso tudo? Dar um tiro no pé? Conseguirei exercitar a consciência que parece tão fugidia a cada dia, sem retroceder, sem cair? Terei sempre a ajuda daqueles que podem ver e poderei fazer outras pessoas verem? Posso fazer disso meu objetivo de vida?
(É, pelo menos, já mudei as perguntas)