domingo, 11 de outubro de 2015

Acidentes

Ontem eu fui dormir, pensando no que
Passamos.
Uma luz tremelicava, na verdade, luzes
artificiais
Que passavam sobre a minha cabeça como flashes
enquanto
Empurram a maca. Ouvindo sirenes, e o som das suas
Lágrimas.
Chorava junto, ainda que por dentro, amortecido pela
Anestesia.

Hoje eu acordei, refletindo sobre a sua
Fragilidade
Que se amalgama com a minha e cria um corpo
Deformado
De um bicho sem espécie definida que nos
Definha.
Mas ele canta num grito alto, agudo, primitivo
Incontornável.
Um monstro verde, fogo-fátuo, cujo beijo me custou
A língua.

Amanhã eu vou acordar, com um gosto ruim
Na boca.
Das palavras que eu disse e não deveria ter
Dito.
Das desculpas aceitas pro forma, do suportável
Que não
Era nada disso. Do gosto da saudade daquilo que
Tínhamos.
Vou sentir o pó dos escombros, de um muro erigido tijolo
a tijolo.
A dor nas narinas, dificuldade de respirar, tudo culpa da
Wrecking ball.
E vou rezar pra vermos com mais clareza quando a poeira

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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Erupção



No veio onde passou a lava,
Já nasce um musguinho
Já rastejam os primeiros vermes,
Um passarinho vem bicar.
Se anuncia a primavera.

A rocha incandescente,
Poeira levantando,
A natureza guinchando
Levando calor no lombo e
A terra se amoldando.

No ajuste, mistura esqueleto,
Com galho e tronco
A terra vai se solidificando
E chia se cai na água, que se espalha
Toda vaporenta.

Por acaso aquilo é uma flor?
Ela ficou ali, ereta, chamuscadinha
No meio do inferno.
Ela sorri pra mim.
Ela tem dono, mas eu pego


e coloco no cabelo.

terça-feira, 3 de março de 2015

A enxurrada - versão 1.5

Blame, no one is to blame
As natural as the rain that falls
Here comes the flood again


Alguns trovões à distância.
O céu se enegrece pouco a pouco.
Os sons se intensificam,
medo em forma de nuvens.
Mas elas dançam a quilômetros daqui.

Ouve e vê gordas gotas
Que pingam por todos os lados.
Refestelando-se na poeira,
na sujeirice do solo.

O vento sopra em rajada,
Enregela sua espinha.
Novas gotas lambem sua face ferida

Ele entende que a tempestade é linda,
Que o medo é chuva,
Que dor é relâmpago.

Lar doce lar,
A água começa a subir,
correr para todos os lados.

Não tem piscinão.
Não fizeram plano de drenagem.


Não é culpa de ninguém. É só a vida.