sábado, 31 de janeiro de 2009

Poetry night - finale

So that we we finish the poems that were brought to this amazing party, we must post the two last ones.

Both are lyrics of lovely songs and they are quite meaningful to the people who brought them.
The first is "Como nossos pais" by Belchior and sung by Elis Regina in the video that follows. W. said this song was a part of his psycholgy course since the professor would always mention it, but he never quite understood why. Then, as he was about to graduate he figured it out. It's relating to our parents, our ways of living life.

Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
De coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...

You can see Elis singing here


The second poem or song was brought by U. for it symbolizes the state she is in lately, looking for herself, trying to figure out what she is why. It is called "Caçador de mim" and was composed by Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão and it was sung by Milton Nascimento or Zé Ramalho.

Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim

You can listen to the song here

Hope you have enjoyed the poems and next post back again with my stuff!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Poetry night 4

First of all, I would like to make an excuse public. In the previous post, there are two poems. The first "A banda" was written by Elton. The second "The devil is a preacher" was written by the esquizofrenético Amauri. It was not well explained and this could raise misreadings, so, I hope I have cast the ambiguity away.

In this fourth part, we have two more poems. One was brought by T. It's Carlos Drummond de Andrade's


Composição:

E é sempre a chuva
nos desertos sem guarda-chuva,
algo que corre, peixe dúbio,
e a cicatriz, percebe-se, no muro nu.

E são dissolvidos fragmentos de estuque
e o pó das demolições de tudo
que atravanca o disforme país futuro.
Débil, nas ramas, o socorro do imbu.
Pinga, no desarvorado campo nu.

Onde vivemos é água. O sono, úmido,
em urnas desoladas.já se entornam,
fungidas, na corrente, as coisas caras
que eram pura delícia, hoje carvão.

O mais é barro, sem esperança de escultura.


According to her, this poem is meaningful to understand that sometimes to destroy and to dissolve are ways to be able to constuct new things.


D., on the other hand, presented us a poem by Alvaro de Campos. It is the perfect way to explain how he feels about life and the worries he has.


Estou Cansado (Álvaro de Campos)
version in English

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Poetry night 3

now I am going to post two longer poems in Portuguese.

One was taken by me, and it is a poem about happiness and music. It was written by a guy named Elton and it was one of the few pieces of his poetry which had never seen the eye of the public. According to the people there, it's just his style and there's a lot of him in it.

A banda

Hoje é um dia especial.
A banda vai tocar.
Cada um toma o seu lugar,
O espetáculo vai começar.

Um o segura com firmeza
Passa a mão pelo seu braço
Acaricia suas cordas
Elas se tensionam todas
E déin!
Sua caixa ressoa a música,
A torna mais alta, mais viva.
E suas curvas vão se encaixando
Como peças oposta de um quebra cabeça
No outro corpo.
Sem mi. Sem dó.

Outra dedilha
Suavemente sobre seus dentes,
Suas teclas. A mão vai voado sobre toda a superfície,
Mais rápido, mais rápido, mais rápido...
Movimentos que quase não acompanham o som,
Mas que são criados por esse, para impedir o vazio,
O silencio.
E a melodia vai chegando ao êxtase.
Vai diminuindo, cedendo, dando lugar ao cansaço.
Um doce cansaço que se faz presente com um agudo
Que finaliza a harmonia.

Enquanto isso, a boca dele encontra a dela, como num beijo.
E seu sopro dá-lhe vida,
Cheia de paixão ela grita, sussurra.
Ele vai tomando conta de toda sua extensão
Todos os seus orifícios, explorados carinhosamente.
Ela é quase um outro membro,
Fálica, fláutica,
Dele.

Porém nem todos na banda exigem carinhos.
A violência também é bem-vinda
Para que o gozo seja atingido.
Tapas, socos, isso impõe o ritmo.
A percussão alegra, distrai...
A pele tensiona e relaxa
Tum Tum Tum
Ele geme a cada batida
Ele bate no compasso do meu amor.



To finish this post, another longer poem which happens to be the same as the one before. It was taken by A. because it was written by a not-so-famous poet but it has a lot of him in the poem. The rhymes are captivating and the story brings sprinkles of sarcasm. And according to U., he revealed everything at the end as he normally does.
Both poems are republished here with permission of the authors. in case you liked the following poem, you can find more here

The Devil is a Preacher (^!!!^)
O diabo está a se arrumar,
pois hoje, ele vai sair pra jantar.
“Jantar hoje? Com quem?”,
há de perguntar-me alguém.
Mas lhes digo de antemão,
antes que usada em vão
seja sua voz.
Sairá pra jantar o tinhoso
Com um algoz.
Um que não é dos meus
e certamente não é dos teus.
Sairá jantar com aquele que chamam de Deus.
Um jantar de negócios, devo dizer.
Pois ambos têm assuntos de interesse, não de lazer.
Sairão para jantar então,
com o propósito de uma negociação.
Pois a situação está braba, seja aqui, na Terra
Ou na “última morada”.
E seja esta Inferno ou Céu
A recessão lá afeta, de maneira indiscriminada.
E ao se encontrarem para jantar, põe - se Deus,
A matraquear:
“Amigo Lúcio, devo dizer,
que a situação na Terra, do Céu observada,
sei que não é
mas me parece uma piada.”
“Ora Todo Poderoso, como a explica então?”
Perguntou o diabão.
“Não, posso, mas já lhe dito
o quão arrependido as vezes fico
de ter concedido aos humanos,
o dom do livre arbítrio.”
“Pois, com esta recessão,
luta família contra família,
irmão contra irmão.
E dessa situação tão cruel
como posso eu acreditar
que tenha a ver com sorte ou azar
a entradas de almas no Céu?”
“Os humanos perderam o juízo
e, como amigo, lhe aviso
que o lugar onde habito
tornar-se-á um Paraíso.”
E em toda esta discussão
Nem Polícia, nem Ladrão
chegariam a um consenso
por meio da razão.
Pois almas faltariam no Céu
e estas, para onde iriam?
Alimentar-se de fel.
Em vidas, cabeças ocas.
Em morte, companheiras do senhor das moscas.
E este, vil e trapaceiro,
Não podia estar mais faceiro,
ao propor a Deus uma barganha.
“Jogaremos pelas almas,
você as leva, se nas cartas me ganha.”
“Deus não joga pela vida de seus filhos,
mas a situação é tensa.
Então, por que dar ouvidos
a consciência pretensa ?”
E à jogatina se inclinaram.
E por horas então pelejaram.
Munidos de azes e valetes.
Fumando charutos de fumaça azul.
Ouvindo Jazz ou Blues.
E Deus por fim ganhou.
As almas ele salvou.
Da mesa se levantou.
E, disfarçadinho,
picado, bem picadinho
Uma carta escondida,
O Senhor rasgou.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Poetry night 2

Now two more poems that were present in the night of the party.

one was
SONETO DA FIDELIDADE

Vinícius de Morais

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

(Antologia Poética)

a version in English here

R. brought this one because he wanted to express his desire to have a true love, for the laughters and the tears, an honest relationship based on attention and fidelity.

A. was less romantic and more existential. He brought us a poem by Emily Dickinson which makes us think about who we are and how this is affected (or not) by the people around us.

Can you answer the poem's question?

I'm nobody! Who are you?
Are you nobody, too?
Then there's a pair of us — don't tell!
They'd banish us, you know.

How dreary to be somebody!
How public, like a frog
To tell your name the livelong day
To an admiring bog!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Poetry night 1

Well, look at the game you can do with your friends: call them to your house, BYOB or BYOF, and have them bring as well a poem. Yes! You can only enter provided you have a poem. Better if it is your own, but if it is not, it has to be one which really moves you. Easy? Then you fold it and put them all in a bowl or urn (more poetic)and when the party is going fine, make a circle and raffle poems. everybody gets one and read silently. After that, one establishes a sequence and people read. As the reading finishes, the group is supposed to guess who brought the poem and why. And after the author or fan is discovered, he or she can explain the reason for that specific piece.

From today on, I will post the poems (most of them in Portuguese) and explain why people chose to take them. Hope you like them. (the posts are in English since some friends who do not know Portuguese wanted to understand a little bit of what is going on in the blog!)

M. took this one by Fernando Pessoa.

Escrever é esquecer.
A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.
A música embala, as artes visuais animam,
as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm.
A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono;
as segundas, contudo, não se afastam da vida -
umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida.
Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa.
Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.

To write is to forget.
Literature is the pleasantest way of ignoring life.



According to M. he brought this one because he wanted to illustrate the theme of the night, poetry, arts and the way we were making it be part of our lives.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

The son of Janus has given me up...


He is dark, I know
But weren’t my remarks darker than that?
Maybe he is just searching for another vice
Maybe life has done him good, or bad
Maybe life has undone the him I knew
And he is reborn into a new skin and wit
Maybe he could not grasp my pussy
Maybe I was just too much for him to handle
(Or too little)
Maybe a fuck you has turned into a chilly silence
Maybe he loved me more than he thought he could
(or despised me more than he ever imagined)
In the meantime, the scrap is there
The dispossessed remains out of my possession
I sit here, wondering what I missed
The promised unseen
The unnecessary confirmation and delight
I wonder if he is eating properly
And make plans for the (damn you, Utopia) Second coming…

A missão

De repente, ficou quente e eu vi um clarão. Antes que pudesse me dar conta do que estava acontencendo, chega aos meus ouvidos

“Hey Sunshine!”

Tento em vão levantar os olhos e invade-me, mesmo por minhas pálpebras cerradas um clarão que me faz doer o cerebelo.

“Toma, kid”, diz com sua voz doce e imperativa um ser cuja fisicalidade não me era licito ainda explorar.

Tateio o vazio, sentindo falar mais forte os sons ao meu redor e o toque da relva onde eu então me deitara, num modorrento e mormacento dia, ao lado de um regato, numa atitude pastoral, mas pastoreando nada além de pensamentos que pastavam na minha mente.

Sinto com as pontas dos dedos uma estrutura plástico-metálica. Os dedos se fecham, e uma imagem se constrói no olho da minha mente. Óculos. De que servem óculos ao cego? Por que tanta luz?

Receando ser aquilo tudo uma piada de mal gosto, hesito, resisto, mas cedo ao impulso de vestir aqueles óculos ainda ouvindo ecos do “toma”, meio que impelido por esse ser que era só voz e luz.

Sinto um alívio.

Tentativamente vou abrindo os olhos, devagarzinho, sentindo a pupila contrair e dilatar, tão incerta quanto o meu todo. Quem teria vindo atrapalhar o sonho de um Caiero qualquer aos pés do regato?

“Você...”

“Sou um anjo. Dos piores tipos que você já conheceu. Eu jogo pros dois lados.”

E a imagem que foi se formando, me confundindo, era esse um íncubo? Rosto com uma tez deslumbrante. Daqueles que engana o tempo, ou simplesmente o ignora até o último momento. Pêssego eterno, veludo rosa, liso como pétala de rosa fresca. Vejo um sorriso. Mas, eita!, é o sorriso mais triste que você pode imaginar.

“Por que você brilha tanto?” perguntou ela para mim.

Foi então que percebi que ela também usava óculos. Escuros como a noite, ainda assim, uma falhada tentativa de eclipsar a luz mais brilhante que emanava de todos os lados.

“Não sou eu que estou a brilhar, é você! Nada brilhava até você chegar.”

“Perdão, mas tenho que dizer que como anjo eu digo apenas a verdade. A luz vem de você não de mim. Eu tenho uma missão, uma mensagem para você.”

Estava assustado. Aquilo não fazia o menor sentido. Como poderia eu brilhar e não sentir? Como poderia brilhar tanto que não me era possível resistir ao brilho? Eu sentia que a luz irradiava dela. Afinal, era ela o anjo. Teria eu morrido?

“Não, você esta vivo. E a cada dia ficará mais vivo, sua criatividade vai aumentar, sua tolerância, sua sabedoria”

“Você leu meus pensamentos?”

“Você pensa alto. Não é só de palavras que a comunicação entre os puros de coração e não tão puros do resto falam”

“Qual é sua mensagem?”

“Eu devo lhe dizer... eu... um dos lados pediu que... você foi escolhido, não! Eu fui escolhida para...”

Sentia a dúvida no coração do anjo e tentava tatear-lhe os pensamentos. Seria aquela uma via de mão dupla? A ansiedade crescia, e a luz ficava intermitente. Sentia que havia ali um esforço, uma guerra sendo travada. Sentia a presença de demônios e anjos assistindo a tudo, torcendo...

“É, sunshine, eu não me lembro.”

“Da sua mensagem?”

“É, da minha mensagem. Posso ficar por aqui e de repente o vento me conta, ou a chuva, ou alguém fofinho, qual era minha grande missão para você?”

“Pode. Fique a vontade. O mundo é grande e eu estou por aí. Você gosta de omeletes?”

“Sim. Mas eu quebro os ovos, ok?”