sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Diálogos III

Platão: Soube que você tem escrito alguns diálogos, é belo?
The tone: Sim senhor. Por quê?
Platão: Simples. Com que autoridade você os tem escrito?
The tone: Sob a de ninguém. Tem que ter a sua permissão?
Platão: Não! Mas tem que manter uma certa propriedade. Por acaso seus diálogos apresentam uma estrutra dialética, no sentido clássico?
The tone: Na verdade, não sei. Só que sinto umas coisas, uma sensação de divisão, uns dilemas. Daí, começo a escutar duas vozinhas na minha cabeça. Cada parte de mim, cada papel social que eu assumo toma voz e vai dando sua opinião.
Platão: E você chega a alguma conclusão?
The tone: Normalmente, duas vozes, as mais extremas são as que se sobrepõe às demais, intermediárias. Os extremos crescem, como se um elevasse o outro. Como se tivessem atrelados ou algemados. E o dilema vai se intensificando. Fico realmente divido. Como diria um amigo, viro sujeito cindido.
Platão: Mas daí, com quem você conversa?
The tone: Eu busco materializar um aspecto das minhas dúvidas e angústia em uma figura externa que faz parte da minha vida. Alguma figura com a qual eu gostaria de discutir aquele ponto específico, apesar de saber pouco ou nada deles. Na verdade, nao converso com o que eles são, mas eles sao apenas partes de mim, sabe? É como se eu estivesse conversando comigo mesmo.
Platão: Mas e a conclusão? A síntese?
The tone: Bom, essa está sempre alem do diálogo. Este só existe porque a sintese ainda não veio. É apenas a externalização da pergunta, não da resposta. Não tenho a resposta, e nem sei se ela existe de fato.
Platão: E o que você me diria de dialogar com o que as pessoas foram, quero dizer, com o que elas escreveram, ipsis-litterimente?
The tone: Acho que pode ser uma outra alternativa, um outro modo de dialogar, mas daí, não estarei dialogando propriamente com minhas indagações mais profundas, e sim, com algo que vem de fora e me atinge, mas não estou fechado para isso.
Platão: Falando em fechar, acho que está na hora de terminar este diálogo. Você sabe como fazê-lo?
The tone: Não. Nunca sei como terminar. O senhor me ensina?

Conversão

Na esteira de quem está recuperando um pouquinho do passado, um poema-confissão que mostra um poucão de quem eu fui e um pouquinho do que ainda sou.


Mais uma busca chegou ao fim.
Não quero. Não gosto. Não falo. Não posso.
A dor dá lugar a um novo matiz celeste.
As estrelas são outras. Mudam-se os santos.
Porém os velhos hábitos encalacrados e livres dentro de mim flutuam
Livres, dentro de uma prisão que sou eu.
Serão expurgados, e levados com o resto do lixo que repousa na sarjeta pela manhã!
È hora de mudar e de decidir,
Novos processos que levam a novas preocupações que desembocam em novos resultados.
Uma versão melhorada, ainda que carbonada, de mim.
Velhos amigos que retornam, velhas feridas, já cicatrizadas. Velhos hábitos que retornam.
Porém devo dar a eles uma nova roupagem, já que são diferentes em essência.
Chega de reformas! Estou cansado de simples arranjos que me mantém o mesmo que eu era e fui há anos!
Só a Revolução vai mudar o que sou! E ela começa aqui dentro.
Invoco a quebra, a ruptura com a mesma sede e devoção de quem invoca um Deus.
Me fecho, implodo, depois explodo e renasço.
Vou ser além de mim. Logo... Agora.

26-10-2006. Ônibus na Rebouças. 17:00

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

escrita automática

(uma amiga nos inspira e a gente tenta...)

Sento aqui pra escrever um texto e não sei se estou escrevendo o texto ou se ele está me escrevendo sinto a mão pousar sobre a pena e percebo que a pena não existe o que é uma pena porque eu vou digitando maquinalmente na maquina que não mente se quem mente é quem sente e a maquina não parece sentir e as letras vão pulando no compasso do meu coração que fica batendo mais devagar e mais rápido tentando acompanhar os movimentos dos meus pensamentos e eu viro para olhar ao meu redor e o texto continua a me escrever e a me inventar e eu me vejo inventando desculpas para tentar me explicar e vejo que não me entendo pois ajo de uma forma que não deveria e o sol entra pela janela apesar de ser noite e eu não consegui dormir pois quem dorme não entende que a vida passa rápido e tudo parece ser externalidade e fugacidade e já não adianta mais prestar atenção nos cabelos brancos que despontam nas têmporas já que tudo vai passar e logo eles vão estar brancos e pretos e amarelos e azuis correndo comigo pelo universo cavalgando num cometa qualquer em direção a buracos negros e eu sinto que um está me puxando a ano-luz daqui, ou seria ele ali na minha cama rindo pra mim e me puxando puxando sugando e suando e na hora que eu chego perto ele vira uma supernova e não ri mais porque ele está namorando por aí e eu aqui sozinho com o texto e com a pena que já voou pela janela mas sempre volta como um bumerangue para mostrar quantos livros eu ainda tenho que ler e quantas horas eu ainda tenho que trabalhar e o suor pinga da minha testa e molha o solo arado pelos meus pensamentos e as sementes parecem demorar tanto pra vingar e o amor não chega pois acho que ele pensa que eu já não estou mais aqui, que eu mudei pra antártida onde tudo é frio menos a minha vontade de ser e de entender o mundo e a mim mesmo e eu vou tentando entender e nunca entendo e decido cavocar mas nunca consigo cavocar sozinho daí uso o telefone pra poder falar com deus e fica só dando ocupado porque acho que todos querem falar com deus e eu decido falar com o diabo mas ele está de férias e eu fico sem falar nada e sem cavocar só olhando por cima pra ver o que eu quero pro meu futuro que é algo que não existe igual ao passado porque tudo é uma grande especulação e memórias de impressões tingidas de tinta-sangue subjetiva um amontoado de irrealidade real porque não existe nenhum lugar fora da ideologia nem pecado ao sul do equador e eu fico martelando sentimentos que não são meus e fico vivendo dores alheias porque tenho medo da chuva e tenho medo do escuro e tenho medo do texto que não para de me escrever e de me mostrar que não tenho tempo de escrever e de amar e de voar e de intelegentiar e tem uma menina apontando pra mim e dizendo que eu sou inteligente mas ela não sabe que eu sou apenas uma fraudezinha que sabe fingir direitinho e que quer se libertar das amarras das coisas que não sei fazer porque quero fazer mais agir mais e ter um valor social mais adequado ao invés de ficar aqui sendo escrito e a chuva caindo lá fora e molhando a cabeça de quem não tem teto e sinto raiva e vomito alguns gnomos que pisam nos meus olhos e me fazem dormir.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

"Haikais" do busão

O significado vai
O poema fica.

A corrupção é toda política
A política não deveria ser nenhuma corrupção.

A beleza é como vinho
Alguém viu minha garrafa?

A vida é como uma árvore
Frondosa e lampeira
Ma-deeeei-ra!

Quero corromper a linguagem:
dkjkdjsdjiwkldsjdioeajem

Natureza sem dominação
Só em sociedade em reconciliação.

Não sou poeta
Sou punheta.

Eu sou mais eu!
Atenção: a função sujeito está indisponível
no momento. Favor tente mais tarde.

Alteridade sem medo
Eis o segredo.

A vida é um jogo de baralho
Solta minha mão e pega no meu pé.

(variação) A vida é um jogo de baralho
Alguém viu a rainha de Copas?


Agora estou num contato transcendental com o Numenon
o Universo está me mandando uma mensagem...
Vem de dentro, vem de fora?
nao... era só um peido mesmo...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Diálogos II

The tone: Sabe onde fui hoje?
Marcuse: Não sei. Poderia me dizer?
The tone: Fui à festa de comemoração da vitória da escola de Samba Vai-Vai.
Marcuse: Ah, o carnaval. Linda festa, não?
The tone: Um pouco, mas bom que senhor tenha tocado nesse assunto. Só tinha gente horrível lá! Por que pobre tem que ser tão horrível?
Marcuse: Explique melhor. O que você quer dizer com horrível?
The tone: Ah, não sei. Gente mal vestida, corpos flácidos, dentes podres, tortos, mau-cheiro. Desproporções. Hábitos levianos.
Marcuse: Mas você parece estar enumerando elementos deveras aleatórios. Não sabe que todas as normas culturais, como a higiene, a precisão ou a pontualidade, ou inclusive um determinado ideal de beleza física são meros construtos de uma classe dominante loira, alta, de olhos azuis?
The tone: Quer dizer que eu estou sendo um pouco tendencioso e estou analisando as coisas de uma perspectiva presa a essa moral estética capitalista?
Marcuse: É o que parece.
The tone: E isso tem cura?
Marcuse: Infelizmente, nos moldes da sociedade atual, só através da loucura.
The tone: Então, enquanto não enlouqueço, vou vivendo vinicius-de-moraismente e achando que com o perdão dos feios, beleza é fundamental.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Diálogos I

The tone: Desculpa, d. Marlene, a senhora poderia cantar aquele pedaço de novo?
Marlene: Claro, e você pode me chamar de Lili. (ela começa a cantar)
"Such trying times, such trying times Why do we live in such exasperating times?"
The tone: Puxa vida!
Marlene: O que foi?
The tone: Quando é que a senho... que você cantou essa música mesmo pela primeira vez? Marlene: Em 1963.
The tone: Ah!
Marlene: Por que percebo certo desapontamento?
The tone: Porque já passou tanto tempo, aconteceram tantas coisas no mundo e eu ainda acho que ela está toda atual.
Marlene: Mas preste bem atenção. O refrão é esse que cantei para você, mas a música em si fala da história de um amor. Será que as pessoas vão entender que ela é sobre o mundo?
The tone: (suspiro) É, você ja ouviu falar da alegoria? E da teoria da parte e do todo? Isso fica martelando na minha cabeça.
Marlene: Da primeira sim, mas a segunda conheço apenas superficialmente. Por quê?
The tone: Por nada não. Só te digo que com essa música, nao dá pra dizer que quem canta seus males espanta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Duas pequenas flores

às vezes eu me pego meio piegas
quero abraçar todo mundo e quero fazer cafuné
às vezes eu quero ser romântico
do tipo daqueles do velho mundo do velho tempo
às vezes eu me vejo cercado de pessoas bonitas
por dentro e por fora
almas justas e sublimes
às vezes consigo escrever um poeminha
coisa simples, sabe?
Pra brincar com a linguagem
pra fingir que fui poeta, amei
pra homenagear duas divas
ou melhor, uma Diva que vi
e uma outra que Vivi
Como o jardim das idéias estaria mais triste
e mais simples
sem essas flores de candura
Mas elas ainda têm que me ensinar
sobre o fim
às vezes eu me pego sem saber como terminar...

Intermitências

O que fazer enquanto esperamos? Esperamos o próximo ônibus, o próximo pagamento, o próximo final de semana. O próximo encontro. O que fazer enquanto esperamos o próximo texto a ser postado, a próxima cagada? A espera.... ela é monótona e vazia. Ela é cheia de estou-aquis, que fingimos não ver, pra dar luz aos quero-estar-lás.
Esperemos a morte, a nova vida... esperemos sentados ou de pé!
Esperemos fazendo ou só esperando mesmo.
O que parece ser às vezes é!
Logo logo!
A espera acaba! daí começa outra...