sábado, 23 de janeiro de 2010

Letter to the dreamers - and the mirror



Ma chère Isabelle

Sua força falha e eu sinto
que o terremoto foi além de Richter.
Seus olhos brilhantes estão baixos.

I feel your back bend under
the weight of the world.
I feel I might have lost you.

Mas você fica ao meu lado,
Tremeluzindo e flamulando
Como vela ao vento.

I can identify the real you
under all such veils
urge to take you in my arms and soothe you
Lull you to sleep.

Você nunca perdeu.
Você foi uma das campeãs.
Mas onde era pra estar errada, acertou.

So I follow by your side.
We are siblings, and so are the wind and the fire.
We have one another to rely on
although having is just an illusion.

I learned to love you no less
But I saw it could not be more,
Maybe no one will ever make me.


Theo, mon amour:
Suddenly, there you are, being framed by the door
Smiling wildly as just you can do
Melting cold and hardened hearts.

Sua voz, flechas em chama, me sinto crispar.
Seu movimento é como ondas nas pedras. Tempo de tormenta.
Não te escuto, é apenas um quebrar de ondas contra rochas.

And you are here and gone and here again.
It seeems you are not to leave so soon.
As you always did. Because you were never really here.

Seu silêncio significando siga em frente
Ou um sinal de que nada sairá do lugar.
Certezas sofrendo mitoses. Fagocitando-se.

I don't care.
You're mine anyway, I never yours.
So the fight is over.

Vejo a mágica vindo de todos os lados.
Poesia enchendo cada um dos meus poros
Me inebrio e me sinto VIVO.

E agora o futuro se descortina
Como estrada serpenteando por montanhas e vales
Eu tremo, pego na sua mão vacilante.
E caminho com você.


***
your strenght falters and I feel
the earthquake is beyond Richter.
Your shining eyes are low.

Sinto seu torso dobrar-se sob
o peso do mundo.
Eu sinto que devo ter te perdido.

But you are by my side,
Glimmering and steaming
Like the candle in the wind.

Posso identificar quem você é de verdade
debaixo de todos esse véus
apressá-la aos meus braços e te acalmar
Te embalar no sono.

You never lost.
you were one of the champions.
But exactly where you were meant be be wrong, you were right.

Então sigo ao seu lado.
Somos irmãos, assim como o são o fogo e vento.
Temos um ao outro pra contarmos
ainda que ter seja só uma ilusão.

Aprendi a te amar mais
Mais percebi que não podia ser mais,
Talvez ninguém mais me faça fazer isso.



Theo, mon amour:
De repente, ali você estava na soleira
Sorrindo daquele jeito maroto que só você sabe
Derretendo corações frios e endurecidos.

Your voice, arrows in flames, I burn.
Your movement like waves on the rocks. Storm time.
I can't hear you, it's just the waves breaking on that rocky wall.

E você está aqui e se foi e está aqui de novo.
Parece que você não vai embora tão cedo.
Como sempre fez. Porque nunca esteve aqui de fato.

Your silence means go ahead
Or a sign nothing will move.
Certainties in mitoses. Phagocytizing themselves.

Não tou nem aí.
Você é meu de qualquer forma, eu nunca seu.
Então a luta acabou.

I see magic coming from all around.
Poetry filling each one of my pores
I fluster and feel ALIVE.

And now the future reveals itself
Like a road meandering mountains and valleys
I shiver, get your wobbly hand.
And I walk with you.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Operação Arqueologia: O ovo do dragão (2005)

A operação arqueologia vai trazer textos meus que eu for encontrando e que não constam aqui no blog, sejam em prosa ou em poesia. Assim, luto contra o tempo e faço vocês conhecerem melhor um pouquinho do que eu fui. Começo a série com uma história que escrevi em 2005, de presente pra uma amiga.

Há algum tempo atrás, numa terra não muito distante, havia um rei e uma rainha que governavam placidamente seu pequeno reinado. Apesar de todos os súditos gostarem deles, era de conhecimento público a fraqueza de caráter do rei, e a submissão excessiva pela qual a rainha passava para poder manter a própria sanidade e a ira do rei afastada. Assim, estabelecia-se uma aparência de paz, o que, então, aprazia o povo.
Com o tempo, a rainha ficou grávida, e ela deu à luz uma linda princesinha que um dia seria Rainha. O nascimento da pequena pérola foi deveras celebrado e muitos vieram das mais distantes terras para visitar aquele diamante em forma humana.
Com o passar do tempo, a pequena princesa crescia, e dava mostras de que além de uma beleza física invejável, ela também possuía uma clareza de espírito muito aguçada. Buscava ajudar as outras pessoas, indistintamente praticando a bondade, mas sem abnegação. Ela tinha discernimento para decidir os momentos em que podia exercitar essa bondade e as horas em que devia se retirar de cena, pois ela conhecia seus limites, e seus defeitos na mesma medida que suas virtudes.
Porém, quando a princesa completava seus primeiros anos de maturidade plena como adulta, chegou ao reinado um velho eremita. Aparentemente, ele poderia ser confundido com qualquer pescador da região, mas através seu sorriso bonachão e seus olhos expressivos, todas as pessoas sentiam que o peso dos anos não lhe fazia qualquer diferença. Era difícil ficar em sua presença sem sentir que seus olhos perscrutadores eram de certo modo invasivos. Porém, o ar de sabedoria do velho, perdoava-lhe este tipo de impressão, e ele tornou-se naquele lugar uma espécie de referência para os necessitados de uma palavra amiga, que os ajudasse a resolver a maior sorte de problemas.
Contudo, não se podia deixar enganar pela respeitabilidade do ancião. Ainda que seus olhos fossem macilentos e preguiçosos, e seus cabelos todos da mais pura alvura, sua alma era tenaz e suas intenções, negras. Ela havia levado para a cidade algo que poucos possuem, mas que se bem manejado, podia causar muitos estragos: um ovo de dragão.
Apesar de conhecidos por sua volatilidade e inflamação, os dragões dependem de certas condições especiais para nascer. Assim como as aves ou répteis, a maturação do ovo depende da temperatura ambiente. Entretanto, por mais contra-sensual que pareça, ao invés de fogueiras ou do calor extremo, o ovo de dragão tende a se desenvolver num ambiente frio e ácido. Normalmente, quanto mais úmido, melhor, porém, de uma umidade bastante específica. Ao chegar no pequeno reinado, o velho ainda não tinha certeza, mas sabia que lá talvez, isso lhe dizia sua intuição, era o lugar perfeito para que o ovo atingisse sua plenitude. De fato, todas aquelas propriedades não diziam respeito ao clima natural. Afinal, ali, o clima era ameno, e não havia sequer neve no inverno. Os dias eram mornos e as noites um pouco frias, mas na medida certa para que nem mesmo as lareiras fossem necessárias.
Porém, o sucesso do processo de incubação dependia de como as pessoas reagiam umas com relação às outra. E a experiência do velho, os anos de amargura e de maldades haviam treinado seus olhos para perceber as sutilezas dos homens, e localizar as condições para que sua ambição se concretizasse.
Não se mostrou uma tarefa difícil, já que a predisposição daquele povo para a mentira, para a apatia, para a dor era tão forte. O homem, aproveitando-se da autoridade que tacitamente se lhe concedia, apontava para o pior que existia em cada um, espalhando a vileza, tornando comum o sofrimento, fazendo com que a mera presença do outro fosse uma tarefa praticamente insuportável.
Existia, todavia, um obstáculo para que o ovo do dragão pudesse atingir o ponto de maturação completa. Existia ali, uma pessoa que representava um Ideal díspar daquele que o velho desejava disseminar: a princesa que seria Rainha. Assim, ele desenvolveu um plano que alguns chamariam de sinistro, outros, de esperado. Ele começou a convencer o povo que na verdade, a beleza que fazia a princesa tão cara a todos, era senão uma ilusão. Muito ao contrário, ele queria demonstrar, que o que o povo até então celebrava, era nada menos que a forma mais pervertida de feiúra e monstruosidade.
Certamente, muitos se quedavam céticos a este respeito. Alguns questionaram o velho, tentando entender sua maneira tergiverstória de pensamento, o que ele dizia ser sua complexidade. Porém, estes logo se desinteressaram do assunto e não foi muito difícil de convencê-los, e a todos da veracidade de suas afirmações. Nesse reino, diferente de muitos outros, não havia uma grande figura, no máximo alguns quixotes, mas ninguém que conseguisse manter a integridade diante da estonteante sabedoria do velho ancião. Assim, se a princesa dependia de alguém, além de si própria, ela estava em maus lençóis.
E num momento de fraqueza, ela se viu duvidando de si própria, e neste momento, por mais que tenha durado apenas alguns segundos, forças da natureza que são indescritíveis entraram em ação, e o céus se nublaram, as árvores murcharam, como se curvadas diante de algo que nem elas próprias entendiam, os pássaros calaram e, como se por mágica, não havia mais borboletas, nem libélulas à vista.
O velho, muito perspicaz, soube ler nas entrelinhas os sinais que a natureza emanava, e deu-se por satisfeito. Natus est. Ecce draco animarum devorator. (Nasceu. Eis o dragão devorador de almas).
Entrementes, o que ocorria com a princesa, era deveras intrigante. Antes, muitos dos homens do reino e de terras vizinhas, vinham até o palácio, apenas na esperança de pousarem os olhos sobre a face da formosa donzela. Muitos eram os pagens do castelo que lutavam para atendê-la mais prontamente, o que causava orgulho em seus pais, os soberanos. Agora, a princesa não recebia mais a visita de ninguém, os homens passaram a ignorá-la e mesmo a evitá-la. Os pagens não mais atendiam aos seus chamados, e buscavam transferir para outrem a tarefa de banhá-la e fazer-lhe a toalete. Pouco a pouco, também se operou uma mudança com seus pais, o brilho de orgulho que reluzia em seus olhos foi gradativamente se apagando, e foi substituído por uma sensação de estranheza e vergonha. Quem era aquela estranha que havia sequestrado a bela princesa?
Evidentemente, ela sentia todas essas mudanças de forma pungente. Ainda que pensasse que sua beleza interna – a qual consistia em sua delicadeza, espiritualidade, bondade – continuasse a existir em sua forma mais pura, o senso de que isso era uma rebeldia. E a crença de que nos olhos dos outros jazia a verdade sobre quem ela era na verdade, de que sua antiga vivacidade realmente havia lhe sido desvestida, como se fosse trapo velho imperavam. Olhar-se no espelho tornou-se um fardo, pois o reflexo não era o de si própria, mas sim o de uma estranha, de uma outra. Toda sua noção espacial estava alterada, suas curvas amplificadas, e os outros, ao invés de mostrarem o quanto aquilo era ilusório, só reverberavam suas opiniões e juízos.
O dragão, que crescia cada vez mais, não se nutria dos alimentos que a natureza oferecia, mas daquilo que sentiam os homens que o circundavam, aproveitando-se dos conhecimentos que lhe haviam sido conferidos pela linha genética draconiana. Eis um conhecimento Milenar que passava de dragão para dragão, percebia que o tênue feitiço que havia lançado o velho sobre a cidade podia pôr-se à deriva, caso um único elemento saísse daquela ordem, daquela conformação. Dessa maneira, também como uma forma de se auto-preservar, o dragão lançou um feitiço e, durante o sono da princesa , disfarçado na figura de um gato, ele pode furtivamente se apoderar da beleza da princesa, mas sabendo que não podia destruir tal dádiva, teve que encarcera-la numa bola de cristal. Ele sabia que um dia, a princesa poderia quebrar o feitiço e para que isso se desse era necessário apenas que ela pedisse a ele, de volta, aquilo que lhe pertencia por direito. Ele se tornou, de ladrão, no guardião daquela jóia, e esperaria a eternidade, esperando nunca ter que a devolver.
Do dia seguinte em diante, não mais podia a princesa, que seria Rainha, se olhar no espelho, e mesmo em seu reflexo embaçado no cálice, nos olhos das pessoas, ela só podia ter uma constatação positiva de sua monstruosidade, de sua feiúra.
A única pessoa que podia salvar a princesa, naquela circunstância seria ela mesma. A partir do momento em que ela visse por trás do véu da ilusão, como ela era a personificação de um tipo de beleza muito cara, e muito rara, o feitiço se quebraria e ela voltaria a sorrir. E por mais que ela não conseguisse fazer com que as outras pessoas olhassem também através do véu, ela ainda assim saberia que se tivesse o conhecimento e a força de espírito para pedir de volta aquilo que lhe havia sido extirpado, ela poderia ser novamente completa, apenas ela.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Surreal: al sonido del tango

E eu estou aqui, lendo e lendo
Eu leio trapo e rio rio.
Eu estou namorando.
Namorando a Frida Kahlo.
Ah, ela tem um bigode mais bonito que o meu.
Ela vem mancando e me beija com a boca torta
e canta a última modinha:
preguntan y preguntan,
preguntan por que lloro,
preguntan por que canto,
por que no la maldigo,
por que la quise tanto... tanto..


Minha mão sua sangue e vai parando,
Sua e para.
Mas as flores vão brotando no meu jardim.
Só Janus que não veio me visitar no seu mês.
Eu fiquei meio cego, só olho pra trás e pra frente nada
Não sei se caso com Frida ou se compro uma frigideira
Teflon
E seu filho, aquele pestinha mal-educado ficou mudo. Mudo mudo.
Nem meus vitupérios?
Filho escuro. Será que ele foi embora?
Foi pra Pasárgada? Mas ele fudeu. Ele não é amigo do rei.
Podia ao menos ter dito adeus.
Agora fica invadindo meus pesadelos,
junto com o menino da bala.
Acho que ele tá ressentido, o menino da bala, porque não tem pirulito. Só 50 r$ mesmo.
E eu rio e rio. Logo os pesadelos vão passar. As montanhas da minha mão vão virar mar.
Viva o sertão de nosso senhor do querfim.
Voem voem discos, te esperam em Brasilia...
vejam aquele que eu sempre quis ver.
Mandem a ele meu amor!
Y yo fico aqui, mallo, por dios...
acho que vou de novo pra banheira.
Bem depois de ver o que fiz pra merecer isso?
Mas tudo bem, a imperatriz do nylon vai me anistiar.
E eu vou aqui, querendo cães e gatos. Matando com presunto e pondo na sopa.
Esperando elas subirem pelo ralo e pronto pra chinelada.
Esperando ela subir as escadas e me levar pro altar.
Y Preguntan por que en vano
la espero todavia;
por que vivo soñando

domingo, 10 de janeiro de 2010

Alguns modos avulsos de assassinar a poesia

Não é de praxe que eu colque aqui coisas que não fui eu que produzi. Exceto uns poemas que ganhei de presente, o que leio e gosto fica guardado em algum lugar. Mas esse pareceu impossível de não compartilhar. Um dia eu chego lá. Falando nisso, o nome do autor estava errado onde peguei esse poema. Parece, pesquisando aqui, que ele faz parte de umlivro interessante chamado Trapo. Vale dar uma olhada.


ALGUNS MODOS AVULSOS DE ASSASSINAR A POESIA

Amarra-se a poesia contra um muro
Cheio de urubus
Ela recusará a venda
Nem na hora da morte perderá a dignidade
Dipõem-se os poetas lado a lado
Em números de sete
E fuzis de ordem unida serão distribuios
Um deles com pólvora seca
(Sera salva a consciência)

Mira-se o coração
Suave sob o peito
Um mais fanático
Preferirá entre os olhos
Mas o braço tremerá

Algum presidente de associação gritará: Fogo!
Os poetas, homens praticos, homens do seu tempo
Homens que fazem o que deve ser feito
Homens que não estão aí para papo furado
Os poetas apertam o gatilho
Pá!


Desde pequeno conheci a poesia
Uma balzaquiana elegante, sorridente, lúcida e vaga
Com um anel no dedo
Meus Deus que coisa linda!
Secretamente lhe mandei bilhetes
Pedi em casamento
Marquei encontros
Reticente, me afagou os cabelos, me deu um beijo na testa
(Era na boca que eu queria, um beijo de língua feroz)
Joguei futebol, tirei nove em português
Oito vezes cinco, quarenta
Fiquei velho, mudei o mundo, instaurei o comunismo
Enchi os cornos de pinga
Entrei para o banco do Brasil
E ela veio de novo, madrugadinha
Que mãos pálidas, que transparencia, que sutileza
Falava francês a degraçada
Sentamos num bar
Verde que te quero verde
Não serei um poeta de um mundo caduco
Mas que seja infinito enquanto dure
Senhor Deus dos desgraçados
As armas e os barões assinalados
Ah, que saudade que eu tenho
Ora direis, pulicéia desvairada, rua torta, rua morta
E ela ali deusinha vagabunda e arrogante
Vou-me embora pra Pasárgada
Fui-lhe metendo a mão nos peitos
Erguendo a saia de seda
Vou estuprar a poesia
Que alegria!
Eis que ela me foge, bateram as doze horas
Fiquei com o papel em branco

Mulher difícil a poesia
E u de calça Lee, ela musa grega
Vênus De Milo, romântica desvairada
Solteirona neurótica, cheia de pasta na cara
Quem ama não esquece
Vinha em sonhos, traiçoeira, brincava de 31
Fazia-se maçã do Eden, funcionária pública
Manequim de propaganda
Sou Jack Estripador, lhe arranco a meia da coxa
Lhe enforco sobre o colchão
Lhe encho a cara de porrada


Num banco de praça vou lhe catando sutil
Sou um gênio da gramática
Ataco de conjunção, prepósito, verborreio, substantivo
Com arte
Vou de régua e quarteto
Rimo paixão e turbilhão
(Vem cá gatinha...)
Ergo os braços com ênfase
(Me beija a boca doçura)
Soneteio, eclogeio, epopeio
Ela me abraça, quentinha
Mas eis que passa um velho e lhe leva
Maldito Carlos Drummont de Andrade


Não quero mais
Quero te ver seca, morta, arreganhada e sorridente
Como a carcaça de um boi
Não me provoques
Não me venhas de soneto
Não invente novidades
Não redescubra Mallarme,sequer Homero
Meta no rabo teus computadores e teu seiscentimo
Quero te ver desdentada e em pânico
Ave nua e morta

Ao diabo tua retórica!
Vou ser grosso que nem um bicho
O que eu quero é comer a sua filha gostosa
Que logo vem me atenta

CRISTOVÃO TEZZA