quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Jocosa proposição cinco

o ensaio que se coloca a seguir tem como objetivo geral a especificação da subjetividade perdida daquele que vos fala. como objetivos específicos é possível identificarmos quatro pontos centrais de argumentação, a dizer, i)a defesa do caráter teórico e filosófico do seu discurso, ii)a justificativa para o processo quase inevitável de psicologização das experiências vividas, iii) a apologia irrestrita à imaginação sem fronteiras - a pseudoanarquia da mente que se traveste de certa loucura - e afinal, iv)a compreensão da inescapabilidade da forma de dizer o que se necessita dizer como foi dito.
primeiro, faz-se mister especificar as fontes de pesquisa acessados. segundo freud, marcuse, lacan (et alli), a mente humana se forma e deforma e se reflete e se esconde. transcende-se o limite a cada passo dado com as pernas mais abertas. uma vez que se atira uma pedra, o lago já não é mesmo. as ondas podem se acalmar e a superfície pode voltar a ficar plácida, mas no fundo, ali no fundo o chão possui uma nova pedra, que faz parte do lago. o fora vira dentro.
segundo, a riqueza da sabedoria possui unicamente um valor verdadeiro a partir do momento em que se compartilha. destarte, aquilo que se afirma ser terapêutica, ou uma forma paliativa de se lidar com os fatos da existência, nada mais são do que camadas de conhecimento empírico ou teórico que saem como formas de auxílio ou como formas de solucionar problemas de qualquer sorte.
além desses pontos, vale fazermos um pequeno desvio mental para a mente em si, que se abre como um leque e que permite enxergar novos prismas e novas perspectivas. de weltenschauung em weltenschauung todo o nosso Dasein vira um Hingehen. o silêncio se torna um fardo, uma punição (para qual dos interlocutores só o destino dirá).
por fim, é importante concluir toda ilação certificando o leitor que este texto, como qualquer outro, permitindo sua transliteração se mostrará nada mais que a imagem essencial da afirmação de que realmente, não, não ia dar certo mesmo.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Jogos Passageiros quatro

e o tempo vai apagando as marcas
ele se torna mais um
na multidão

dá uma vontade de chorar
de se esconder
meio vivo
meio morto

fogo apagado
luz apagada
cortina
fechada

o show acabou
semama que vem tem mais
tem mais?

vão-se os biólogos
e as tesouras
ficam os dedos
as folhas
e a vontade
e o carinho

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

marchinha

Andando na rua, já não acontecia fazia um tempinho
As pessoas olham olham
com aqueles olhares que devoram
e até viram o pescocinho.

Eu fico abismado
Retribuo meio tenso.
Um sorriso, olhar sacana
Imagino pelado
Penso
Levava pra cama?

Pois é carnaval, venha junto!
quem não sabe fazer, assista!
tempo de alegria e brincadeira
Antes que se vá eu te pergunto
será que é ele Passista
ou será que porta-bandeira?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Bem-vindo 2011 (atrasado)

Olá aos leitores.

Mais um ano começou e o blog estava meio abandonado. Sei que não costumo fazer posts informativos, tendo mais aos posts artísticos, com personagem, com poesia. Mas acho que preciso dar uma justificativa por ter ficado ausente tanto tempo. Além disso, quero poder anunciar os planos pra o que seguirá esse ano (pelo menos na intenção)e quero poder aproveitar a onda e escrever um pouco, quebrando as travas e o que quer que havia me colocado em uma fase cheia de ideias mas sem a menor motivação para colocar tudo na página, seja aqui, seja em qualquer outra. Um silêncio dolorido, mas inescapável. Uma inércia preguiçosa e (sendo auto-complacente) necessário.

Por um lado, eu viajei. Antes de viajar, tem aquela fase de preparação da viagem, procurar lugares, pesquisar, transportes.

Depois veio a viagem em si. Logo começo a colocar (provavelmente em inglês) as aventuras aqui no blog, pro povo de lá poder acompanhar. Todo mundo que segue por aqui sabe inglês, não?

Além disso, outra coisa que me impediu de vir aqui colocar a boca no trombone era que eu estava muito ocupado, lendo as atualizações nos blogs que sigo e os quais estão se tornando um corpo de inspiração. Me surpreendo com as coisas lindas que pessoas que conheço escrevo, me divirto, me comovo. E tou praticando pra participar mais fazendo comentários. Vamos ver.
Que blogs são esses? Bom, tem os mais politizados e divertidos como o Escreva Lola escreva e o Mas que língua solta.

No quesito poesia deliciosa de ler, que a gente devora e se delicia tem o Fodido não tem vez e o Atlas Atrás. Ah, o Egomorto também sempre me leva pra longe.

Tem ainda os blogs que são mais um comentário sobre a vida, com insights e num tom meio crônica. Entre os meus favoritos estão o Vida down under, o Minha vida antes dos 30 e o blog do Wendell.

Tem um com contos eróticos ou de conteúdo forte. Acho bem legais também, o falo com meu falo.

Esses são os que mais tem postado e os que eu mais gosto mesmo.

Bom, pra começar o ano (meio tarde, eu sei, mas dizem que o Brasil só funciona depois do carnaval) eu já botei alguns textos no meu estilo, textos que revelam um pouco do que passa na minha subjetividade nesse momento. Mas o texto que deveria inaugurar o blog é um que escrevi no avião, voltando pro Brasil. Foi um momento emotivo e meio piegas, mas que deve servir como um plano de metas, um mapa de para onde devo ir. Segue. Se tiverem paciência, divirtam-se:

"Voltando pra casa eu me vi pensando. Pensando no que eu fui antes dessa jornada, no ano que passou. Foram tantas pessoas que passaram pela minha vida e deixaram uma marca. Algumas vão ficar. A maioria, como sempre, passa.
Foi uma época tensa. Eu vivi de tudo um pouco: excitação, euforia, medo, incertezas. Tive de tomar decisões e sustentá-las. Entender um pouco melhor sobre quem eu sou, de como posso sim ir além. De como eu posso fazer um gesto que, inesperado, transcende o que eu penso em fazer. Que eu posso chorar na frente de todo mundo, dançar feito uma bailarina bêbada.
Quando eu simplesmente queria dar uma pausa de mim mesmo e entender o que o ano de 2010 foi, então eu descobri: eu vi do que sou feito e do que tenho motivos pra me orgulhar.
se por fora pareço o mesmo, por dentro há toda uma nova configuração. Uma semente germinando, uma fagulha antiga que se acende e brilha. me sinto cheio de vida e de amor.
Sinto que a distância me aproximou, dos meus amigos, da minha família. Quero saber mais sobre a minha cidade, sobre o meu país. Tantas perguntas que me fizeram e eu não sabia como responder. Vi tantas pessoas tentando levar uma vida decente em condições tão melhores, mas sendo tão pobres de visão global. Miséria de vidas enfiadas em bebida e auto-comiseração. Parem. Olhem de fora. Só não posso negar que eles tentavam ser felizes. Levar alegria pra outras pessoas.
Tudo tem sim, seu tempo. Estou clichê. Vou perceber que ao final de 2011 tudo virá mais fácil e os pontos onde errei estarão mais claros, mais definidos. Superados? Talvez nem tanto, mas não tenho pressa.
A perspectiva é de muito estudo, trabalho, mas acima de tudo, a vontade de amar profundamente, de uma forma que eu nunca me permiti antes, de uma forma diferente."

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Juntos Poderíamos três

querido pequeno príncipe,

começo essa carta sentindo o alívio dos justos. ou dos covardes.
afinal, a voz que se enroscava na garganta
e não saía
eis a voz
voando, viajando nos bits e bytes.
ela vem do mundo das ideias. platão manda lembranças,
até nietzsche.
mas eles não sabem nada de você.
talvez nem eu.
porém a voz vai saindo e ela sai meio rouca e cheia de...
pesar?
deixar estar.
talvez pelo que o último dia poderia ter sido e não foi
pelo vergonha de um atraso de horas
pelo fato de que o bar e os amigos eram mais importantes que a companhia

não fique pensando não, coração,
que nesta carta eu te mando frases de efeito
cujo efeito são o contrário do que eles intencionam
o futuro pode ser incerto, mas pra que ele deve estragar o gozo do presente?
eu não precisava estar ali, mas se não dei passos na outra direção
a frase era só capricho, constatação
frases de efeito
cheias de defeito
cheias de mim.

no doubt, você me falou: don't speak
assim, perdeu o que eu tinha de melhor e de pior. azar o seu. e sorte.
sou sim chato e bobo e feio,
nem vou conseguir me encaixar perfeitamente no seu mundo.
pra ser sincero
não me encaixo
per fei ta men te
nem no meu.
Quiça mal e porcamente?
nem sei se quero.
vou confessar que às vezes, não raro, não sabia se falava com você ou com a rosa.
tão doce e macio.
tão aberto.
minhas mãos como de jardineiro percorriam seu corpo, não, não tinha espinhos.
Mas depois da bonança, trovoada, tempestade.

tinha tanto pra viver com você.
te ensinar e te aprender.
talvez um dia, um dia talvez
a paixão afine nossos espíritos
a gente entenda do que se fazem as nuvens
e o que queremos nem sempre é o que podemos.

num futuro logo ali
talvez a gente tenha mudado por demais
(ainda que seu fundamentalismo rejeite a mudança
como as estações, ela vem)
a gente nem se reconheça
com nossos defeitos
desfeitos
enquanto o melhor de nós
feito caniço na tormenta
se dobre, mas volte sempre a apontar pras estrelas
pra que o outro possa se sentir em casa.

Com amor, mas sem frescura
Mr. Wrong

Joga Pedra dois

tua violência visceral
me confundia e me consumia
eu era o que eu era
mas era o que pensava que queria que eu fosse.
teu sorriso maroto encantava
seus olhos ainda habitam meus pensamentos
os vincos na sua testa
caretinhas
tudo faz parte de mim e cresce
me inebria

cada um dos bons momentos,
tesourinhos.
mas o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
mas o amor, ah, não era pouco, nem se acabou.

Já Passou um

e assim você ia entrar no ônibus
e eu esperava um último olhar, um sorriso de adeus
passos em direção à porta
manda um beijo.
nada disso é migalha
é só carinho.
mais um passo.
entrou.