quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Alice acorda do seu sonho utópico: Último dia


“Há coisas que todos fazemos nas nossas vidas e depois nos perguntamos constantemente, Por quê? No que eu estava pensando? O que eu imaginava que ia acontecer? Como pude fazer isso, com ele, comigo? Invento, elaboro motivos, mas o fato que foi uma estupidez permanence. A estupidez é um grande mistério para mim, como às vezes eu consigo fazer alguma coisa tão contrária à razão ou às evidências, isso me assombra ao ter alguma distância dos fatos.” Marge Piercy, Sleeping with Cats

Então, havia a grande última aventura antes de chegar em casa e retomar a rotina da vida. Estava indo para casa e mesmo que eu tivesse muitas boas memórias da viagem e tinha sido bem sucedido na maioria dos planos, ainda tinha um dia inteiro. Eu podia ter comprado um voo de volta, mas em vez disso, quis tirar vantagem do fato de que estava num país diferente e queria ver as pessoas, a paisagem, eu queria ir mais devagar e realmente sentir e ver o que estar a 10.000 km acima do chão não me permitiria.

Acordei cedo e tomei um banho mais demorado pra me inspirar para o dia todo. Tinha certeza que não tinha chuveiro no trem, então como eu tomaria banho mais tarde? O Heraldo havia me mostrado onde estavam as frutas e o cereal e me disse que eu podia comer o que eu quisesse. Depois de ir embora, fui até um mercadinho e comprei algumas bolachas e salgadinhos pra viagem. As pessoas tinham me avisado que a comida do trem era ruim e cara As bolachas não iam ser o suficiente pra me alimentar o dia todo, mas já era um começo. Quando conferi o relógio, percebi que eu estava levemente atrasado.
Então comecei a correr para pegar o metrô e nas estações, fui fazendo uma contagem regressiva, 20 min, 15 min... Demorei meia hora para chegar na South Station. Tinha 5 minutos pra pegar o trem. Onde é? Deixa eu perguntar no balcão de venda dos bilhetes. “Seu trem partiu há cinco minutos.” Choque. “Perdão, aqui diz 11:45 e agora…” Ela fez cara de desentendida. “É 11:45 de Back bay, não da South Station.” “Quer dizer que eu vim 10 estações em vez de 4, e perdi o trem porque não percebi que a cidade tinha duas estações de trem?” Ela sorriu, se sentindo protegida pelo vidro reforçado. “Bom, isso quer dizer que eu perdi os 130 dólares que paguei na passagem de volta pra Flórida?” Ela conferiu o sistema. “Eu posso te colocar num outro trem que vai para Nova York. Em vez de ter 2:30 para pegar o próximo trem, você terá meia hora para fazer a troca. É arriscado e você tem que rezar pra esse que vai pra Nova York agora não ter nenhum atraso.” Cara de ai-meu-deus, que seja. “Quanto é?” “118” O quê? Paguei 130 pra ir de Boston até a Flórida, atravessando o país inteiro, e vou ter que pagar quase o mesmo preço pra ir até Nova York que é aqui do lado? “Tá bom, fazer o quê?”

Então, eu teria que ser muito rápido em Nova York. Tive que esperar na estação uns quarenta minutos pra embarcar. Um senhor com uma maleta sentou do meu lado, eu tinha sentado na janela. Tentei ficar calmo, já tinha surtado no Facebook, e pensava... e se eu tivesse tomado um banho mais rápido, ou nem tomado, se tivesse acordado mais cedo? Mas não aditava chorar sobre o leite derramado.

Tentei me divertir tirando fotos da paisagem, afinal, tinha sido por essa razão que eu ia por terra. Para ver e interagir com ela. Adorei o fato que havia uma tomada disponível. Eu fiquei no meu celular quase toda viagem. Pra ver onde estava no GPS, pra conversar com as pessoas no Brasil que estavam me confortando. Para tirar fotos. Usei ele bastante principalmente quando ficou escuro e não dava para ver nada do lado de fora. Ficava jogando um joguinho que descobri, e me divertindo. Mas a primeira parte da viagem  eu mais observei e curti a natureza.










Não houve atrasos pra chegar em Nova York. Eu realmente tinha meia hora pra... comprar coisa pra comer e pra ver Nova York. Peguei minhas malas e andei pela estação, procurando duas coisas: onde eu podia comprar comida pra viagem e onde era a saída. Encontrei os dois, mas decidi sair pra na volta passar no restaurante. Estava conversando com um amigo que me disse: “Você vai estar em Nova York e não vai vê-la? Tá louco?” Não respondam. Se ele soubesse o que ainda estava para vir. Então fui até a calçada e estava um pouco assustado pelo movimento das pessoas andando, dirigindo, conversando nos celulares. Peguei minha câmera, tirei duas fotos, uma para cada lado e entrei na Penn station. Tinha quinze minutos e estava contando.





Fui até um KFC e comprei uma salada de frango, uns nuggets, mas acho que acho que acabei esquecendo de pegar o refrigerante que estava incluso no combo, mas não queria voltar nem ficar carregando mais alguma coisa. Achei a fila e me certifiquei duas vezes que era a fila certa. Não queria errar dessa vez. Aparentemente eu tinha aprendido a lição e foi com alívio que eu vi o moço conferir a minha passagem e colocar no número da minha poltrona uma etiqueta na qual estava escrito Jacksonville. Estava pronto pra conhecer mais um pedaço dos EUA. Vi a Philadelphia, e fiquei surpreso quando percebi que a gente estava em Washington DC. Não fazia ideia que a gente ia pro oeste em vez de ir diretamente pro sul (pela costa). Sempre conferia onde estava pelo meu GPS.

Almocei e jantei o que tinha comprado e o cara que sentou do meu lado nem falou comigo. Eu não fiz nenhum esforço pra conversar com ele também e só fiquei ouvindo partes da conversa que uma senhora e um rapaz estavam tendo nas poltronas atrás da minha. Eram boas histórias.

Assim que ficou de noite, já tínhamos cruzado Maryland e a Virgínia. Lembro da estação Richmond. Então chegamos na Carolina do Norte, passamos por Fayetteville, mas já estava escuro demais pra ver qualquer coisa. Quando era duas da manhã decidi tentar dormir. Já estava me acostumando a dormir sentado, nos ônibus e agora no trem. A maioria das pessoas naquele vagão já estava dormindo e eu não vi nada nem ouvi durante a parte da viagem na Carolina do Sul. Quando acordei, o sol estava nascendo. Verifiquei e estávamos na Geórgia.




A parte da Geórgia era basicamente florestas e árvores. Não tinha sinal no celular, então estava sem GPS, sem joguinho e sem telefone. Fiquei observando a passagem, mas só tinha árvores e mais árvores, então comecei a ler algum dos livros que tinha levado. Lá para as nove da manhã, chegamos em Jacksonville e desci do trem. Estava me sentindo cansado já que tinha dormido algumas horas, mas havia muita coisa ainda pra acontecer.

A coisa é, eu não tinha planejado bem aquela parte da viagem. De alguma forma eu tinha imaginado que eu ia descer do trem e ia ser magicamente transportado de Jacksonville até Gainesville. Elas eram cidades vizinhas, não devia ser muito difícil tentar pegar um ônibus e ir para casa. Tentando ser independente, em um dos meus movimentos de maior estupidez, eu não vi um balcão de informações e decidi que eu não ia pedir informações. E tentei achar uma estação de ônibus. Abri o mapa no celular, e decidi andar para uma direção até que eu chegasse ao centro da cidade ou em alguma estação.

Cheguei numa avenida larga, mais parecida com uma estrada. Andei e andei e decidi que ia começar a pedir carona. Pus meu dedão pra cima, minha mala no chão e esperei, esperei. Ninguém dava a menor atenção, talvez fosse aquele trecho da estrada. Os carros passavam tão rápido que não tinha jeito de parar. Então comecei andar de volta para a direção da estação, mas não queria parecer um perdedor, então parava a cada 20 passos e tentava a sorte de novo.

Quando eu estava quase chegando na estação, um cara começou a gritar comigo. Ele correu um pouquinho e me alcançou e perguntou o que estava acontecendo. Eu falei que estava precisando de uma carona pra casa e ele perguntou onde e eu falei Gainesville.

Ele disse que a mulher e ele podiam me levar pra Gainesville e eu achei que tinha dado certo a ideia da carona, alguém tinha prestado atenção e logo eu estaria em casa. Ele me levou para o motel que eu tinha acabado de passar e conhecemos a enorme mulher dele lá. O quarto estava escuro e ele começou a falar da polícia e se eu tinha um cartão de débito, se eu tivesse, eles me levavam. Ele disse que precisava do dinheiro pra gasolina e, além disso, ia precisar de 100 dólares para poder dar para a polícia, caso alguém parasse a gente por causa da mulher dele, e tal. Que talvez nem precisasse, mas era bom ter, caso precisasse. Quando ele começou a falar das coisas nesses termos eu deveria ter corrido, ido embora de volta pra estação. Mas a história na hora parecia fazer sentido. Ele me levou até o carro, uma van toda fechada atrás. Era medonha e ele me fez sentar num pneu na parte de trás.

Tinha um monte de mala e roupas jogadas. E umas manchas vermelhas. Era sangue?
De novo, onde eu arranjei a coragem ou a falta de autopreservação pra entrar naquela van? Não me lembrava das lendas urbanas da infância, com os palhaços da van levando as crianças pra roubar os órgãos delas?

Eles me levaram pra um caixa eletrônico e tirei o dinheiro. Eu disse que eu ia ficar com o dinheiro, mas eles disseram que o guarda acharia estranho ter alguém na parte de trás dando dinheiro, e que era melhor eu fingir que nem estava lá. Bobagem, mas eu já tinha parado de pensar naquele ponto. E no caso de ninguém parar a gente, eles iam me dar o dinheiro de volta.

Ele estava dirigindo e eles começaram a discutir. A mulher deu metade do dinheiro pra ele, e ficou com a outra metade e eu achei aquilo estranho. Então, ele começou a dirigir pela cidade, e parou na frente de uma casa. Ficou lá uns 20 minutos e voltou. Olhos vermelhos e respiração estranha. Ele estava queimando o dinheiro que eu tinha dado pra ele com drogas. Enquanto eu esperava por ele, eu conversava com a mulher, dando dicas de como ela podia melhorar a autoestima.

Comecei a ficar puto porque meu corpo estava doendo, eu queria ir pra casa. Já era quase meio-dia. Comecei a ficar hostil com eles. Ele admitiu que ele não ia me levar pra Gainesville, comecei a gritar com eles, exigindo meu dinheiro de volta. Ele me devolveu 20 dolares. Comecei a chorar dizendo que eu não ia conseguir voltar pra casa e aquele era todo o dinheiro que eu tinha pra passar o resto do mês.

Eles me levaram de volta pra estação. Eu estava tão confuso e com raiva, cansado. Liguei pra polícia e contei a minha história. Assim como vocês, ele deve ter pensado que eu era retardado, por ter prosseguido na história, quando estava claro que era um golpe. Como pude ter sido tão inocente? Mesmo a mulher, em uma das conversas que tivemos ao esperar o cara me disse isso, as pessoas só querem o seu pior.

Perguntei na estação como fazia para chegar em Gainesville. Teria que pegar um ônibus até o centro. Lá tinha uma estação de ônibus da Greyhound. Cheguei lá mais ou menos às 2 da tarde. Quando perguntei à atendente sobre uma passagem para Gainesville, ela me olhou como se eu tivesse a xingado de um monte de nome feio. Me falou que não tinha mais ônibus para lá, talvez o da manhã, mas ela não tinha certeza.

Então sentei num banco e comecei a pensar, pra variar um pouco. A cidade ficava a 150 km. Quantas horas demora pra andar 150 km? Perguntei para o Google, 18 horas sem paradas. Não estava preparado para aquilo. Não havia alternativas online. Então resolvi me desesperar e comecei a mandar torpedo para meus amigos de Gainesville que tinham carro e que poderiam vir me buscar. Eu pagava a gasolina. Ninguém podia. Alguns nem em Gainesville estavam. Eu queria deitar e fingir que eu não existia. Alguns amigos me deram sugestões. Aceitei uma delas: ir até o aeroporto e pegar um serviço de transporte de aeroporto a aeroporto que eles tinham. Andei do terminal até o terminal de ônibus municipais e esperei meia hora pra pegar o ônibus pro aeroporto e mais meia hora pra chegar lá. Quando me informei, pensei duas vezes. Talvez fosse mais barato alugar um carro, mas não estava emocionalmente ou fisicamente preparado para dirigir.

Então, conversei com a atendente e seria 144 dólares. Fiquei puto, especialmente comigo mesmo. Devia ter previsto isso. Teria que fazer uma grande economia nos próximos meses para compensar essa minha sandice. Uma sandice bem cara. Lá pras 6 da tarde, quase 8 horas mais tarde do que deveria, cheguei em casa.

Me sentindo como um pedaço de cocô (pra ser eufemista), tomei um banho e fui pra cama. Prometi pra mim mesmo que eu não ia mais viajar de novo. (Ah se eu me ouvisse pra variar haha)

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Jornada para Utopia: Dia 11

Assim que cheguei em Boston, peguei o metrô. Não foi difícil encontrar a estação que eu precisava ir. Andei de lá até a casa do Heraldo. Ele tinha recebido um amigo e aluno meu, e eu o contactei tanto pelo Couchsurfing quanto por email. Ele concordou em me receber e eu teria chegado na tarde do dia anterior, mas com o problema do aluguel do carro e tal, já tinha o informado da mudança de planos. Ele me disse que não estaria em casa quando eu chegasse, mas o Rick estaria. Eles moram juntos. Cheguei, tive que subir um lance de escada e o Rick me recepcionou, me mostrou onde eu dormiria e a casa, me deu uma chave e partiu pra trabalho.

Coloquei as malas no quarto e deitei na cama. Eu tinha dormido durante a viagem de Wellfleet a Boston, mas ainda me sentia cansado. E sentia falta da minha cama. Fiquei ali, olhando pro teto e tentando juntar energias para levantar e seguir com a vida. Estava em Boston, uma cidade interessante, histórica, cheia de possibilidades e seria estúpido da minha parte não sair e me divertir. O Heraldo me ligou, pra verificar se estava tudo certo e me disse que havia algumas revistas de turismo em cima da mesa do quarto que eu estava. Peguei as revistas e selecionei três ou quatro lugares pra ir. O tempo não estava tão convidativo pra ficar andando pela cidade, tinha começado a chover, então resolvi visitar um museu.


No caminho, pude ver prédios bem interessantes.





E pude até tirar foto de um lugar cheio de neblina e cinza. Assustador.


Daí, cheguei no museu do MIT. Para as pessoas que não trabalham com ciências e talvez não saibam, o MIT é o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, um dos mais importantes centros de desenvolvimento de tecnologia no mundo. Fiquei feliz ao chegar lá porque gosto de museus de ciências. Fiquei mais feliz ainda quando a moça da bilheteria me perguntou se eu tinha carteirinha de estudante e minha carteirinha da faculdade serviu pra me dar desconto. Havia cinco exposições diferentes e algumas delas não permitiam que se tirasse foto. Uma era sobre o aquecimento global afetando as geleiras, uma outra sobre holografia, e havia uma exposição de Polaroids. Fiquei no museu por umas duas horas. Até comprei uma camiseta que era pra ser presente, mas gostei tanto que fiquei pra mim.




Ao sair do museu a garoa tinha se transformado numa chuva forte. Por sorte, tinha trazido meu guarda-chuva e andei um pouco do MIT até o Centro de Pesquisa do Câncer. O prédio era bonito e o lobby de entrada era um grande corredor de vidro, com as decorações abaixo e umas telas interativas para o visitante aprender mais sobre o câncer e as pesquisas que eles faziam ali.




Depois disso, comecei a ficar com fome. Era 3 ou 4 da tarde e eu não tinha almoçado ainda. Mesmo o café da manhã tinha sido os restos do que eu tinha trazido do Canadá. Então fui numa banca japonesa, perto de uma livraria grande e comi sushi. Depois de comer e dar uma passeada na livraria, sem encontrar nada de interessante, fui andar mais pela região, já que não estava mais chovendo e eis algumas das coisas que eu vi (prédios e decoração da rua).



Já que estava ficando escuro e os museus e outros lugares estavam fechando, decidi voltar pra casa. Um outro menino do Couchsurfing que não tinha podido me receber, mas sabia que eu estava por ali, me convidou pra ver um filme com uns amigos. Se eu fosse, ia chegar tarde em casa e eu teria só aquela noite para conversar com o Heraldo. Ele era a pessoa que estava me dando abrigo, então senti que deveria ficar com ele, conversando. No caminho de volta, eu vi a estação Harvard e desci. Esperava que a universidade ficasse ali perto. Apesar de minha câmera tirar umas fotos ruins à noite, consegui algumas. Me diverti andando pelo campus e vi a capela, a famigerada estátua do fundador e o que mais estivesse sinalizado. Pensei onde será que era o laboratório do Walter Bishop (da série Fringe), mas não perguntei pra ninguém.





Saí do campus e andei pela região. Vi uma livraria legal e a visitei. Sempre procurava algum livro legal pra comprar, algum da Marge Piercy que eu ainda não tenho ou alguém que eu já tenho, para doar para a biblioteca da sala arco-íris da UF.



Finalmente, voltei pra casa do Heraldo. Ele e o Rick tinham feito a janta. Eu me servi. Como o tempo estava frio, eles fizeram um caldo de peixe. A sobremesa era mousse de caju, eu nunca tinha comido antes. O Heraldo tinha feito de forma experimental. Conversamos bastante, nos divertimos achando pontos e gostos em comum e compartilhando histórias de vida. Estava triste de ir embora já cedo no dia seguinte. Eles foram pra cama porque acordariam cedo no dia seguinte e eu segui o exemplo. Nos despedimos. Eu ia acordar um pouco mais tarde que eles, e decidi tomar banho de manhã, antes de ir. Se eu soubesse que aqueles minutos valiosos poderiam ter feito uma grande diferença para aventura que tive no dia seguinte...

domingo, 23 de dezembro de 2012

Jornada para Utopia: Dia 10 (versão de LVA)

Então eu desci e estava na estação de ônibus. Meu celular estava finalmente funcionando de novo. Eu estava de volta aos EUA, então podia ligar para o Brasil, podia usar de novo minha internet móvel. A primeira coisa, procurar locadora de automóvel em Boston. E procurei por uma na estação, não tinha nenhum. Eu vi que eu tinha que pegar o metrô e eu estaria a umas 5 estações de lá. Nada difícil comprar passagens das máquinas. Meia hora (era horário de pico) e eu já cheguei lá. Não sabia que em agências de aluguel de carro você sempre deve ter uma reserva, conseguir um sem reserva é questão de sorte. Imaginei que a pessoa apenas tinha que chegar lá e eles teriam carros disponíveis. Havia um carro grande, mas eu não queria começar a dirigir nos EUA em um carro grande. Um médio pra pequeno seria bem melhor pra mim. Eu tinha que esperar um tempo, mas eu tava bem adiantado, mesmo se eu dirigisse lentamente, podia esperar. Apareceu um carro. Dei para ela meus documentos. Eu achei que teria problemas por ter a carteira de motorista brasileira. Não, estava tudo bem. E então o problema. Eu tinha 3 cartões de crédito comigo, o brasileiro, o americano e o de dinheiro para viagem. O único que tinha limite ou fundos suficientes para a transação era o de dinheiro de viagem. Eu lhe dei esse e ela disse: “seu nome não está impresso no cartão”. Eu disse: “eu posso te mostrar o site e meu extrato”. Não. “Posso pagar com dinheiro?” Não. "Tem algum Wells Fargo aqui perto?" Eu faria uma transferência para minha conta americana. Com taxas e tudo, mas tudo bem. Só havia uma caixa eletrônica, há 80 quilômetros dali. Eu desisti. Vamos procurar alternativas. Tem um ônibus pra lá. Ele parte da... estação que eu estava.

Então eu voltei, mais meia hora e eu estava lá. De volta ao ponto zero. Pergunto lá e cá e tinha um ônibus saindo em meia hora. Então eu podia comer alguma coisa e enquanto eu estava comendo e lendo os folhetos da companhia de ônibus, o ônibus chegou. Eu estava tão feliz. Eu ainda chegaria a tempo. Subi e calculei que eu poderia chegar lá às 1h10 da tarde, apenas dez minutos atrasado. De qualquer forma, eu tinha que avisar a Marge que eu não estava de carro e iria me atrasar um pouco, calculando também o tempo de andar ou pegar um táxi do centro de Wellfleet até a casa dela. Como tinha pouquíssimos táxis em Gainesville, eu pensei que seria a mesma coisa em Wellfleet.

Mandei um e-mail para Marge dizendo a ela que eu talvez me atrasasse. Ela me perguntou porque e eu disse a ela que eu tive problemas para alugar o caro então, em vez de ir dirigindo, eu estava indo de ônibus. Ela disse que me pegaria na cidade então e ela me perguntou se eu já tinha almoçado e eu disse a ela que eu não estava com muita fome. Ela disse que o último ônibus voltando para Boston sairia às 2h00, então eu teria que conseguir fazer a entrevista com ela em 40 minutos, chegar lá e partir. E ela me encontraria no restaurante que tinha em frente ao ponto de ônibus. Fiquei tão frustrado. Eu vim de tão longe e estava tão animado com essa chance. 40 minutos?! Não me parecia justo.

Descia do ônibus onde ela me disse que eu deveria. Eu tinha que ligar pra ela para avisar que estava chegando lá. Quando desci uma garoa fina estava caindo. Havia também um pouco de vento, mas eu estava com a minha jaqueta, então tudo bem. Eu esperei 5 minutos mais ou menos e ela chegou, dirigindo seu Volvo preto.

Eu não sei que tipo de noções românticas eu tinha daquele  primeiro momento, mas eu apenas estendi minha mão e nos apresentamos oficialmente. Ela me mostrou o restaurante e nós entramos. Eu ainda não conseguia engolir o fato de eu ter que ir embora tão rapidamente. Vimos o cardápio e ela me recomendou a salada de peixe-espada. Eu não estava com fome, mas seria falta de educação e estupidez não comer. Ela ficou surpresa quando lhe disse que eu normalmente não tomo café (“Do Brasil e você não toma café?!”). Antes da comida chegar, eu abri meu computador e preparei o celular para gravar a entrevista. Ela disse que o plano era me levar pra casa dela e cozinhar algo, mas eu tinha apenas menos de uma hora... ela suspirou que esse não era um restaurante bom e que se eu tivesse mais tempo ela me levaria para o The Bookstore, um restaurante bem melhor.

Foi nesse momento que eu tomei uma decisão. "Eu não vim de tão longe para morrer na praia, mesmo que eu tenha que cometer um crime e dormir uma noite na cadeia, eu farei isso" "Não tem  cadeia aqui", ela respondeu. “Bom, está fora de temporada, eu vou pensar em um jeito.” E de fato, ela achou um jeito pra mim. Ela ligou para uma amiga, a Martha, que conseguiu me alojar em um pequeno e aconchegante chalé. Então, agora nós tínhamos muito tempo. E ela continuou me lembrando que ela se ela soubesse que teríamos mais tempo... ela não gostava mesmo daquele restaurante.

Perguntei para a Marge as questões que eu tinha em mente e no meu roteiro. Achei que foi uma entrevista maravilhosa. (Foi só depois de algumas semanas, quando eu estava a transcrevendo que percebi o quanto  ainda preciso aprender para fazer entrevistas. Sem perguntas com tanta coesão quando deveria, sem começo, meio e fim. Uma bagunça total. Ela foi gentil ao me pedir para reformular uma questão, e de novo, quando elas eram muito confusas ou desconcertantes).

Piercy tinha certeza em fazer a entrevista como uma conversa: ela estava sempre me perguntando alguma coisa e nós começamos a falar sobre o lugar que estávamos. Era minha primeira vez em Cape Cod e ela me deu uma perspectiva muito informativa. Ela concluiu dizendo que...

“Este é uma região costeira, você acha muitos lugares onde as pessoas vão para o mar, as pessoas têm uma grande tolerância porque os homens iam, para caçar baleias por um ano ou dois meses seguidos, as mulheres eram deixadas pra trás. Os homens ficavam apenas com os homens, também havia capitães negros, fora de Provincetown a escravidão ainda era legalizada. As embarcações de caça às baleias tinham uma tripulação sempre racialmente misturadas, assim como em Moby Dick. Alguns dos melhores arpoadores junto com os caiçaras, havia muita tolerância aqui desde o começo, com relação a diferentes estilos de vida e assim por diante. E então minhas perguntas começaram.

Depois do almoço, quando a entrevista tinha terminado, ainda tínhamos um tempo, eu só iria para o chalé depois das 4h00 e ela me levou pra conhecer as praias e a baía. Conversamos sobre o que estavam fazendo para a região e sobre a natureza em geral.


Como vocês podem ver, o dia não estava muito propício para nadar ou pra ficar andando na praia, então tínhamos que ficar no carro. Duas coisas nos impressionaram um pouco. A primeira foi quando estávamos dirigindo dentro do vilarejo. As ruas eram estreitas e tortuosas e quando estávamos dobrando uma esquina um caminhão gigante estava vindo na direção oposta. Estava invadindo parcialmente a nossa faixa da rua e não tinha lugar para escapar. A Marge congelou e o carro parou. Vi minha vida passar em segundos e o motorista do caminhão voltou para a outra faixa alguns segundos antes de bater. Respiramos fundo e continuamos. Logo vou contar a segunda coisa.




Teve um momento que me senti como um imbecil (havia mais desses do que eu pensei possível) quando estávamos na baia. Ela apontou para uma das casas e disse “O Howard Djinn morava aqui. Você o conhece?” Eu provavelmente respondi com minha cara de interrogação e ela estava espantada. “Você não conhece o famoso historiador? Escreveu História do Povo dos Estados Unidos?” Então eu percebi que ela estava falando de Howard Zinn, o famoso historiador, que tinha recentemente falecido. Eu já tinha lido alguns capítulos escritos por ele, mas se eu dissesse isso tenho certeza que iria soar como se eu tivesse tentando consertar a má impressão.


We still had some time, so she took me to her house and I would get to know her cats. First, we went around to see more of the region and we got a road which was a dead-end. When we got to the deadend, Marge had to make a u-turn and go back the same way. The road was narrow and she went outside it to the right and started turning. The thing is there was not enough space and to the left there was an escarpment. She was going toward it and I got tense but she realized we were not going to make it (it was deceiving, I would probably have done the same if I was driving). The car came to a halt and she had to do some steering before we could continue.


Ainda tínhamos algum tempo, então ela me levou para sua casa e eu conheceria os seus gatos. Primeiro demos umas voltas para ver a região e pegamos uma rua sem saída. Quando chegamos no fim da rua, Marge tinha que fazer um U e voltar no mesmo caminho. A rua era estreita e ela saiu dela para a direita e começou a virar. Não havia espaço e do lado esquerdo tinha uma encosta. Ela tava indo em direção a ela e fiquei tenso, mas ela percebeu que não conseguiríamos (parecia que dava, eu faria o mesmo se estivesse dirigindo). O carro parou bruscamente e ela teve que esterçar para podermos continuar.



Assim que chegamos à casa, eu estava feliz. Tinha muitos livros e estava quentinho. Fomos para o andar de cima, onde havia janelas grandes e uma sala de estar. Nos sentamos e ela disse que eu poderia fazer mais perguntas. Eu pensei, "Deus, ou o kosmos, estava me dando uma segunda chance de consertar as merdas que eu tinha feito na outra parte da entrevista."
Liguei o gravador do celular e fiz mais algumas perguntas. De novo, mais do que uma entrevista, ela me perguntou coisas também, ou encorajou que eu falasse também e estávamos na verdade conversando.

Conheci Xena e Efi. Ela chamou o Puk, mas ele não veio. Quando falei pra ela que adorava suco, ela desceu e foi pegar um copo de suco de oxicoco (nem sabia que era assim que dizia cranberry em português :O ) Ira Wood, o marido dela, chegou. Ele subiu e conversamos um pouco. Ele era a pessoa que ia me levar para a casa da Martha. Ele foi muito simpático e foi muito fácil ver como eles tinham se apaixonado.

Acho que a presença dele me fez me sentir mais confortável e eu comecei a falar pelos cotovelos sobre minha vida. Mas era hora de ir embora. Agradeci Marge e me desculpei novamente pela decisão retardatária de ter ficado mais tempo em Wellfleet. Ai se eu tivesse pensado nisso antes.

O Ira me levou até o chalé da Martha e tivemos mais chance de conversar. Foi lindo. Daí, ele me deixou lá e voltou pra casa. Quando subi, a Molly, parceira da Martha me mostrou o chalé. Foi só então que eu percebi que a câmera havia ficado no meu bolso e eu não tinha tirado nenhuma foto com a Marge. Nem no restaurante, nem na casa, em lugar nenhum. Tinha esquecido completamente e a única prova visual que tenho são as mãos dela no volante, na foto acima.

Me senti tão imbecil de ter feito aquilo. A câmera no meu bolso o tempo todo. Tinha o celular com uma câmera até melhor. Ainda assim, me senti extremamente feliz. Eu tinha sido capaz de fazer algo muito importante. Estou estudando a Piercy por um motivo e ela defende e representa uma série de valores com os quais me identifico. Rezei pra que aquela não fosse a última vez que eu a fosse encontrar (e pelos desenvolvimentos posteriores, aparentemente não será).



Essas são imagens do exterior do chalé que eu fiquei. O custo dele somado ao do ônibus foi menos do que eu gastaria com o aluguel do carro. Pude tomar um banho gostoso e fui para a cama porque estava frio. Comi o resto das guloseimas que tinha na mochila. Consegui uma rede aberta de wifi e baixei dois episódio de Fringe e um de Downton Abbey que tinha perdido. Depois de assistir liguei pro Brasil e fiquei conversando. Foi uma delícia dormir. Na manhã seguinte, acordei bem cedinho e peguei o primeiro ônibus, que passava às 7h00. Queria chegar cedo em Boston pra dar tempo de visitar mais coisas. Algumas fotos matutinas tiradas no ponto de ônibus.



PS - Mesmo antes da entrevista eu estava preparando um poema para a Marge e a situação me deu mais material para terminá-lo. Nunca imaginei que ela fosse ler, que dirá comentá-lo, e ela fez os dois.  =)
Para ler o poema, em inglês, clique aqui.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Alice wakes up from her Utopic dream: Last day

"There are things we all do in our lives that afterward we ask ourselves again and again and again, Why? What was I thinking of? What did I imagine would happen? How could I do it, to him and to me? I invent, I elaborate reasons, but the fact of stupidity remains. Stupidity is a great  mystery to me, how I can sometimes do something so counter to reason and evidence that it amazes me when I have a little distance from it." Marge Piercy, Sleeping with Cats

So, there was the last great adventure before hitting home and resuming daily life. I was going home and even though I had so many good memories of that trip and had been successful in pretty much everything, I had still a day to go.
I was very excited because I could have bought a flight down and instead, I wanted to take advantage of the fact I was in a different country and wanted to see the people, the landscape, I wanted to go slower and really feel what being 3000 feet above the ground would not permit me to see.

So I woke up early and had a long shower to help me through the day. I was sure there were no showers in the train, so how would I take a shower later? Heraldo had showed me where the fruit and cereal were and told me I should eat whatever I wanted. After I left their house, I went to a convenience store and bought some snacks for the trip. People had warned me that train food was expensive and horrible. Cookies would not be enough to go through the 24 hours but they were a good start. When I checked the watch, I was running a bit late. I calculated and started running to get the subway and was counting down each station. It took me half an hour to get to South Station. I had about 5 minutes to get on the train. Where is it? Let's ask at the ticket counter. "Your train left 5 minutes ago." Shock. "Excuse me, it says here 11:45 and now..." Rolled eyes. "It's 11:45 from Back Bay, not South station". "Do you mean I came 10 subways stations instead of 4, and I missed the train because I didn't realize there were two train stations in the city?!" She smiled, feeling protected by the thick glass. "Well, does that mean I lost the 130.00 I paid to get to Florida?" She checked the computer. "I can put you in another train for you to get to New York. Instead of having 2:30 hours to connect, you are going to have half an hour. It's risky, you have to pray that this one to NY does not get any delays." What-else-can-I-do face. "How much is is?" "118.00" What? I paid 130 to get from Boston to Florida, crossing the country and I would have to spend almost the same amount of money. To get to NY? "OK, let's do it.

So, I would have to be very quick in New York. I had to wait for 40 minutes more or less to get on. A gentleman in a suit sat by my side and I got the window seat. I would try to be calm, I had already freaked out on Facebook, but if I had woken up earlier, if I had taken a faster shower or none at all... Anyway, no use crying over spilt milk.

I tried to have some fun taking pictures of the landscape, after all, that was one of the reasons I had wanted to go by land. To see it, to interact with it. I loved the fact I had a plug on my seat. I was on my cellphone almost all trip long. Especially when it was night and I could barely see a thing outside. I was not talking on the phone. I was just playing my version of Angry Birds. I was playing my game. But the first part of the trip was more to observe and be delighted by nature.








There was no delay getting to New York. I would really have the half an hour to... buy some food and see New York. I got my bags and ran around the station, looking for two things, where I could buy food to take away and where the exit was. I found both but decided to go outside. I was chatting to a friend and he said: "You are going to be in New York and not see New York? Are you stupid?" Don't answer that. Had he known then what was yet to come. So, I went to the sidewalk and was overwhelmed by the hustle and bustle of people walking, driving, talking on their phones. I got my camera, took these two photos and got back into Penn station. I had 15 minutes and counting.




I went to a KFC and got some chicken salad and some other chicken stuff, left without the soda I was sure was included in the combo and spotted the line I should be in. Of course I confirmed twice as I wouldn't afford to be in the wrong line and missing the other train. I had apparently learned the lesson and it was with relief the guy checked my passport and ticket and wrote a Jacksonville tag, placing it on my seat plate and I was ready to get some more of what the US could give me. I saw Philadelphia, and was surprised when I got to DC. I had no idea we would go West instead of going directly South, along the coast. I was always keeping track of where I was with my GPS.
I had lunch and dinner and the guy who was sitting next to me and I did not exchange a word. Well, I didn't insist much but I overhead most of the conversation the old lady and the guy were having just behind me. Good stories they were.

As the night fell, we had already crossed Maryland and Virginia. I remember we stopped at a station in Richmond. Then, in North Carolina we went through Fayetteville, but it was too dark for me to see anything. When it was about 2am I decided it was time to start sleeping. I had already got used to sleeping sitting on buses and now on the train. Most of the people in my wagon were sleeping. So, I managed to fall asleep and didn't see or heard anything during the South Carolina part of the trip. When I woke up the sun was rising. I checked and we were already in Georgia.



The Georgia part was pretty much forest and trees. There was no phone or internet signal, so the GPS was not working and neither was my game. I watched the trees go by and I guess I started reading one of the books I had taken to the trip.
About 9am we arrived in Jacksonville and I got off the train. I was tired and had slept only few hours. I wanted to get home soon. But there was still a lot to go through.

The thing is, I had not planned what to do in this part of the trip. Somehow I had imagined I would get off the train and be magically transported from Jacksonville to Gainesville. They were neighboring cities anyway, how difficult would it be to get a bus and get home? Trying to be independent, and in one of the most stupid movements, I saw no information desk, so I walked off the station without asking for information on where to find a bus station. I opened the map on my phone, and decided to walk in one direction until I reached downtown or a station.

I got to a very large and busy avenue, more similar to a highway. I walked and walked and decided I should try hitchhiking. I put my thumb up, my bag down and waited and waited. I was scared and excited. It was the first time I was doing that in my life. No one seemed to care, maybe it was the part of the road. Cars were passing by so fast, they had no way to stop. So I started walking back to the station but I didn't want to look like a loser, so every twenty steps I would put my thumb up, hoping someone would pull over and tell me to hop in.

When I was almost getting back to the station, a guy started shouting to me. He ran a little and caught up and asked me what was going on. I told him I was trying to get a ride home and he asked me where home was. I said I lived in Gainesville.

He said he and his wife could take me to Gainesville and I thought the idea of hitchhiking had been accomplished. Someone had paid attention and soon I would be home. He took me to a motel near the station and I met his big wife there. The room was dark and he started talking about the police and if I had a debit card and if I had it they would be able to take me. I gave him some money for gas and he said they could not leave the city if I didn't have 100 dollars because apparently, if the police stopped us on the road, they would  need to have that money to give the cops. When he started talking like this, I should have run but all I did was to think his story made sense. He took me to the car. It was a sketchy van, without windows on the back part, where he made me sit on a tire. There were suitcases and clothes and things scattered all over the floor. I saw some red spots. Was that blood?

Again, where did I get the courage or the lack of self-preservation to enter that weird van? Didn't I remember  the urban legends from childhood of clowns taking kids and stealing their organs in the black market?

They took me to an ATM and I gave them the money. I said I wanted to keep it with me, but they said the cops would think it strange that someone on the back was giving the money and would ask me questions and I was not from the US. Bullshit, but I had stopped thinking by then. I gave them the money and now we could go to Gainesville and in case no police stopped us, they would give me the money back.

So he was driving and they started arguing. The woman gave him half of the money and kept the other half to herself, and I thought that was strange. Then he started driving around the city, he would park and leave the car for 20 minutes or more, and come back. Red eyes and weird breathing. He was burning the money on drugs. Meanwhile I was giving the woman some advice on how to strengthen her self-esteem.

I started getting cranky because my body was sore and I wanted to get home. It was more than midday. I started yelling at them. He said he was not taking me to Gainesville, I started shouting I wanted my money back. He gave me 20 dollars back. I was on the verge of crying and hitting him, and started saying I would have no way to get home because that money was all I had.

The left me at the train station. I was so angry and confused, tired. I called 911 and a cop came and I told him my story. He must have thought I was retarded for having kept on going even when it was clear that it was a scam. How could a person be so naive? Even the woman, in one of the conversations we held told me that. People want to hurt you, beware.

I asked about a way to get to Gainesville. I had to take a bus to go downtown. There was a Greyhound bus station. I got there about 2pm. When I asked the attendant for a ticket to Gainesville, she looked at me as if I had called her the worst names possible and said there were no more buses to Gainesville. In fact, there hadn't been that day, maybe the morning one would, but she was not sure.

So I sat on a bench and started thinking, for a change. I was 100 miles away from home. How many hours does it take to walk 100 miles? Google has it, 18 hours without stops. I was not ready for that. There were no alternatives online. So I despaired and started texting my friends in Gainesville who had cars and were available to come and pick me up. I would pay for the gas. No one could. Some were out of town. I felt I wanted to lie down and forget I existed. So, some suggestions came. I took one of them: I could go to the airport and get a shuttle to Gainesville. I walked from the bus station to a city bus terminal. Waited for 30 minutes for a bus to the airport. Got to the airport after another 20 minutes riding. I could try renting a car, it might be cheaper than the shuttle, but I was not emotionally prepared, tired and all, to drive.

So, I talked to the girl and she said the shuttle would be 144.00. I got angry, especially at myself. I should have predicted that. I felt I would have to buy nothing for the next months to compensate for my stupidity. It had been an expensive misadventure. About 6 pm, I got to my house, almost 8 hours later than I would have if I had thought ahead.

And feeling like a piece of trash (let's be euphemistic), I took a shower and went to bed. I promised myself I would never travel again.