quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sorriso


Quem disse que eu não podia
Recuperar um sorriso?
Das profundezas de onde a vida coloca a gente,
Do fundo do poço de angústias,
Diretamente da outra dimensão que chamamos de passado.

Sonhos, projeções e irrealidade?
Conflitos. Loucura. Marginalidade.
(Odeio a vida nessa cidade)

Eis que no meio do caos
De matéria-prima duvidosa, visto que é como chama,
Embriagando os sentidos numa explosão
(Antigamente isso era compulsório, hoje não)
Faz-se presente um aviso de incêndio.

Pra alimentar minha saudade
Pra aumentar a minha vontade
De que volte aquela que nunca se foi.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Queda


O menino olha pra tela e vê o cursor sumir e aparecer. Por apenas alguns segundos ele se sente piscando para vida e tenta começar a escrever e não consegue. Antigamente, quantas folhas já teriam sido jogadas no lixo, após infrutíferas tentativas de criar, de transformar um vazio em algo com significado, com classe! Dar forma ao que é tão caótico, seus sentimentos, seus desejos. Ele sente os sentimentos e os desejos, correndo pelas veias, à flor da pele. Ele sente e deixa que elas formem uma bola em seu estômago, para que os dedos possam regurgitar, mas é como se os dedos empedernissem. O menino tenta, mas as palavras saem cruas, saem doloridas. Ele tenta tecer o texto, mas o menino é a Penélope. Tece e desmancha, antes mesmo de tecer de fato. As idéias se embaralham. O menino se sente perdido. Ele quer falar, mas a voz não sai. Daí, ele tenta gritar e o grito sai disforme,e o assusta. Ele busca os tesouros dentro de si, mas só encontra portas fechadas, plaquinhas de fechado pra almoço. Ele busca tempo para refletir e cozinhar as idéias, mas ao ver-se deparado com sua tela, com seus instrumentos e pincéis, ele olha para o beija-flor na janela, e fascinado pelo seu farfalhar de asas, o menino se perde em pensamentos. Quando se percebe no lugar onde está, o menino tem de ir. Ele não se sente Narciso. Ele olha pra sua imagem em forma de palavras, ele enxerga seu reflexo a superfície e nas profundezas do que escreve, mas ele não consegue se perder. Ele sente fome, e vai-se. O menino torna o nascer do sol em eclipse. Ele se sente eclipsado e nas trevas, ao invés de aproveitar o escuro para poder tentar inventar a luz, ele fica só ali, semi-dormente. O menino tenta se enganar, que o que havia ali se foi, ou que a lagarta-escritora virou uma borboleta-acadêmica, mas ele se perde como lagarto e como borboleta e sente a miopia de quem tenta se enxergar e não consegue. Onde estão seus óculos, menino? Onde está a inspiração, que permite que você tenha material sob o qual poderá trabalhar e criar? As musas devem estar de férias, ou se mudaram. Que se mudem as musas. Bota uma plaquinha, menino! Vou ditar: Precisa-se de inspiração. Paga-se bem, com Beleza e Graça. Sorte que você tem a Internet, né, menino? Bota lá o anúncio. O menino não tece, ou melhor, ele tece e desmancha, ele tece e se entristece. Mas parece ser uma tristeza insossa. Tente alegrar-se, menino! Levanta essa cabeça! O menino se alegra, mas é alegria de domingo, preguiçosa e antecipante do seu fim. Alegria inodora. O menino tenta refletir, mas os pensamentos são frios, são apenas pensamentos e eles não se permitem virarem forma, são lodo, escorregam por entre os dedos da memória. Razão pura, sem imaginação, só veracidade, sem mediação, insipiente. O menino dorme mas não sonha. Ou, se sonha, ele não lembra de seus sonhos. Mas o menino se imagina no útero, com placenta e tudo. (Mas como o menino consegue imaginar se privado de Imagination? Seria Fancy?) Talvez um dia ele renasça!