quarta-feira, 17 de março de 2010

os inquilinos

Hoje eu fui ver um filme.
Ele me fez sentir como há muito não me sentia: vazio.
Ele falava de coisas que eu não sou, mas eu sei que muita gente é.
Tocou na ferida.
Quando sai da sessão, a luz se acendeu. Dentro e fora de mim.
Fui andando e percebi o verniz das revistas nas bancas de jornal.
Eu peguei meu carro imaginário e comecei a contar os passos que fui dando.
Pé ante pé, no meu carango blindado de mentirinha. Protegido (de mentirinha).
Foi então que eu comecei a olhar em volta e eu vi que ali havia pessoas.
E qual não foi a minha surpresa quando percebi que elas eram

pessoas.

O verniz das revistas se desfizeram em pó,
Isso tudo se mostrou mais uma mentira.
As pessoas passavam, ora pouco, ora muitas,
na Paulista sem fim.
Elas estavam trabalhando,
elas estavam passseando
amando de maãos dadas,
estudando com suas mochilas nas costas
preocupados,
relaxados,
havia uma mulher carregando um carrinho com um bebê ao lado de
um mendigo carregando latinhas.
Uma senhoura à la Almodovar vendendo docinhos na porta do banco fechado.

A beleza se tornou fichinha.
Me senti pobre. Pobre de espírito, pobre de solidariedade,
Me senti como naquele filme bonito de se ver,
mas que mostrava só o vazio das pessoas.

Senti os cheiros de mijo e merda e comida infestando as ruas.
Senti o peso do cansaço das pessoas se arrastando para casa.
A rotina virou nicotina. Vi as pessoas fumando. Se fumando.
A rotina virou rotten , como diriam os ingleses.

Tá tudo oco de cupim. Vai ter que trocar.
Tento terminar o último verso, com esperança.
Tento, mas, agora, não sei.

5 comentários:

  1. Amei.
    amei por completo todo o post.
    eu muitas vezes me sinto sozinha, vazia.
    concordo plenamente com a frase 'a rotina virou nicotina'

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  2. Puuuxa! Quando crescer quero escreve assim! Poesia em prosa!! Ah! Obrigada pelo comentário da "árvore" :D! Me ajuda a continuar!! Graaaande beijo! A gente se vê qualquer dia!!

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