quarta-feira, 27 de abril de 2011

Teoria da Ponte, ou hipótese da ponte

Conversando com um novo possível amigo, ele falava que todas as relações - o foco da conversa eram os relacionamentos amorosos e de amizade - terminam de alguma forma frustrante. Ele pedia para que os presentes dessem exemplos de pessoas que eles conheciam desde a infância e que ainda estavam ali, ao lado da pessoa. Ou foi algo assim. Não vou lembrar das palavras exatas dele, mas o tom resignado dele me fez pensar sobre aquilo nos dias que se seguiram.

Eu sempre fui defensor da hipótese de que as coisas podem sempre dar certo, de que se você investe energia, tempo, arranja um tempo na agenda super cheia e tal, qualquer relação pode se manter, já que os dois lados obtêm algum tipo de satisfação ou realização.

O problema é que eu também sou adepto do mutatis mutandis. Acho que "tudo está na natureza e em movimento", como diria a Joana n'"A gota d'água". E esse movimento faz com que tudo vá mudando: nossos gostos já não são os mesmos, nossos padrões de julgamento, nossos sonhos. E com a velocidade com que as coisas estão acontecendo hoje em dia, mal a gente consegue acompanhar o passo das nossas mudanças. quantas vezes você não se olhou no espelho e não se reconheceu? Olhou pra dentro e falou, meio assustado, "Meu, quem é você?". Mas a gente tá ocupado e mal se pergunta isso, de forma verdadeira, querendo saber a resposta de fato. (Medo, né?)

Daí,lembrei da teoria da ponte. Já falei dela em outro post. Ali eu falei que alguém tinha me falado da teoria, mas na verdade acho que gostei tanto que prefiro dizer que é minha hoje. Como ele não vai se opor a mim nem aqui e nem em lugar nenhum, eu sinto que posso.

A tal da teoria se diferencia um pouco de outra com o mesmo nome. Talvez seja melhor eu chamar a minha de hipótese da ponte. Fica meio pseudo-científico, mas evita confusão pra quem for googlar a palavra.

Sem muito mais rodeio, explico o cerne da minha hipótese: todas as pessoas são mais pontes do que portos seguros. Como assim? A gente conhece alguém, ela mostra algo pra gente, algo sobre eles, sobre nós mesmos, nos leva a outros lugares, lugares nunca antes imaginados, nunca antes adentrados, ou nos levam a lugares onde sempre estivemos, mas olham pra eles com olhos diferentes. Até aqui, tudo lindo. Isso é a amizade, o amor, não? Pois bem, o que acontece é que uma ponte serve pra gente cruzar um certo espaço, água ou terra, por onde a gente não poderia passar sem ela. E de repente, a ponte acaba. A gente chegou ali do outro lado.

O que fazer? Abandonar a ponte? Ela foi tão importante pra fazer você chegar ali do outro lado, ela foi tão carinhosa, tão paciente. Ela já sabe de todos os seus problemas, de todos os seus defeitos e te aceitou mesmo assim.

Mas ela é ponte. A caminhada continua do outro lado. E assim deveriam ser as pessoas. Tem gente que é pinguela, tem gente que é a Ponte do lago Pontchartrain.Não dá pra saber logo de início. Afinal, a gente muda e a ponte muda.

Assim, quando uma pessoa passa, assim como a ponte termina, como eu posso ficar frustrado, aborrecido que ela passou? Vai deixar saudade? Certeza. Vai ser diferente das outras pontas todas, única? Sem dúvida. Mas olhando a sua volta, tantas outras pontes no horizonte.

Isso significa que se deve amar menos cada ponte, caminhar mais rápido de ponte em ponte? Não. Significa que a própria efemeridade de caminhar por sobre ela, sabendo que ela chega do outro lado, que ela tem um fim, é exatamente isso que faz com que você a ame mais (pelo menos em teoria).

Então, não, querido. As amizades e as relações amorosas nunca terminam de forma frustrante porque elas terminam. Afinal, você nunca está no mesmo lugar em que estava antes ao cruzar a ponte, nem ela é a mesma depois dos seus passos. E a caminhada em direção ao horizonte continua.

2 comentários:

  1. Já estava vindo aqui perguntar o que era a tal da 'teoria da ponte', rs.
    Eu também não acho que as coisas terminam de forma frustradas. Concordo com a teoria e achei que o último parágrafo fechou com chave de ouro o texto, mas mesmo assim, eu ainda quero não acreditar que todos são pontes (é, talvez seja coisa da idade, rs), mesmo hoje já sabendo que a maioria das pessoas passam, fico triste ao pensar que talvez de fato todos sejam pontes. Mesmo que agora enxergue isso mais claramente.

    ps.: Preferi a sua teoria da ponte.

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  2. Em poucas palavras, old friend... Obrigada!
    A teoria da ponte, ou hipótese da ponte... Explicou coisas que você nem imagina. Com calma eu lhe explicarei. Sinto que meu momento nesse mundo... Chegou. E você é muito sensível, capta a emoção e a pondera. Foi tudinho o que eu aprendi... Olhando em seus olhos.

    Aprendi que um amor não pode dar conta disso. Por não ter minha pureza.
    ok, eu cruzo essa ponte... Ela se chama... Tempo; Seu sobrenome, espaço. Eu já estou... Na terceira margem do rio. Na... casa da palavra. Esse é o meu canto.

    Mas eu posso distribuir o meu amor em tudo ao meu redor. Ter dinheiro para cuidar do físico, ativar uma vaidade que nunca aflorou totalmente. Eu sei cuidar de amigos. Tenho pavor de traição. Aprendi, na raça, na dor e no silêncio... Que lealdade e fidelidade, para alguns... Não andam junto. Mas transformei... Agora cuidarei dos meus!

    Obrigada!

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