domingo, 8 de junho de 2008

Quarto escuro

(do passado, mas presente)

Ora, não é que minha vida se torna de novo um quarto escuro?
Que eu tenha que me ver novamente tateando em busca de alguma coisa que não sei direito o que é.
Minha vida volta a ser a parábola da caverna, mas diferente, porque não vejo sombras, ou melhor, tudo é sombra.
Não me sinto sozinho. Ouço os gemidos de devassidão ao meu redor. Me sinto um animal. Mas ao mesmo tempo, sou humano, mais humano do que jamais havia me sentido.
Sim, tenho consciência de mim, das minhas sensações, tenho consciência do meu lugar ali, da minha alegria, sinto amor ao meu próximo e me entrego a esse amor, como quem se joga ao mar. Ele me agarra, me envolve e me expande. Eu sou do tamanho do mar, mas sou poeira do universo. Porque penso. Ou sou pensado.
Busco a negação, porque percebo que eu sou uma ilusão. Não sou vítima nem algoz, mais algoz do que vítima, sim, eu sou. Mas acima de tudo, antes de ferir aos outros firo a mim mesmo. Sou uma grande cobaia das minhas experiências mais cruéis, e exulto quando elas dão certo.
Viajo e não saio do lugar. Me expando e volto a me encolher, só pra me sentir menor do que antes.
Busco e esta busca traz frutos doces, que ainda assim deixam um gosto de podre na garganta que nem um litro de minhas lágrimas inexistentes poderá fazer passar.
Provoco, queimo, odeio, caio e levanto. Preciso de você, mas não sempre. Às vezes, preciso de mim. Será que um dia vou não precisar de você? Mas é um prazer te conceder a minha companhia... será?
Sou fútil, leviano e superficial, de novo, e ainda assim os meus amigos e os meus inimigos me dizem que sou inteligente. Acho que sou os dois, então sou do pior tipo, da pior espécie, da pior laia. Mas sou apaixonante, sou uma graça, sou leve, sou como um sopro de brisa numa manhã ensolarada e morna. Mas balanço como o galho das árvores.
Eu quero ver! Mas está tão escuro! Por que eu entrei aqui? Quero me tornar um semi-deus! Quero transcender e... e..., é, por enquanto, é só isso...

25-10-2006. À noite.

4 comentários:

  1. Oi Elton!

    Seu texto me lembrou trechos de 'Memórias do subsolo', um dos melhores livros do Dodo hahaha viu? apelido carinhoso do mestre da literatura russa.

    Cadê os textos em inglês?

    Boa semana!

    Bjocas, Vânia.

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  2. Meu querido amigo.

    Seu texto está belíssimo: o tom confessional permeado por dúvidas e questionamentos fez-me recordar os Românticos. Sei que para você isso pode soar como uma ofensa, mas não veja por esse lado. Os Românticos tinham um desejo ardente de mudar a realidade, mas, como não podiam, entregavam-se às sensações e ao amor. E o amor, de fato, os tornavam pessoas melhores.
    Senti isso ao ler "Quarto Escuro", a linguagem e as reflexões levam o leitor ao claro, à luz, à iluminação de que o amor pode nos fazer pessoas melhores, mais humanas... Qualquer forma de amor nos faz melhores, saiba disso. Já dizia John Lennon, "Make love, not war". A Revolução pode não ter chegado, mas será que o amor não é a grande revolução?!
    Dê uma passadinha no meu blog... adorei o texto que escrevi!!! Dê sua opinião.

    Bjs

    Vivi

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  3. É bastante auto crítico, eu diria quase uma confissão.O amor é sempre maior, não importando a forma, é sempre soberano e mesmo quando o queremos fora de nós, ele insiste, persiste, toma conta de todos os espaços.Como me disseram uma vez, "Me ame quando eu menos merecer, porque é quando eu mais preciso".Lindo texto.
    Faz a gente repensar em muitas coisas.

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