As luzes da cidade não chamam mais meu nome.
Ando pra casa num sábado à noite,
E os sambas dos botecos não falam das minhas dores
Nem as cervejas dos bares cult secam minha sede.
O estrobo pisca mas não me faz pestanejar.
O barulho ensurdecedor das últimas baladas
Não me fazem ouvir o zumbido no silêncio do meu quarto.
O riso da plateia desconfortada ecoa.
As maldades que escondem medo e a inabilidade de sair da posição
do algoz.
Não, não sou agente duplo. Acho que nem sou a gente.
O menino se contorce no quarto escuro.
Ele deveria ter comprado a lâmpada que substituiria
providencialmente aquela que queimou.
a ideia foi forte demais.
Mas o menino está negligente. Não escreve aos amigos, não visita a família.
Ele só sabe que o amanhã é prosa, e que o riberão secou. O tra-lá-lá-lá la ô.
As filosofias escorrem como mijo na calçada,
Passam como luzes dos faróis dos carros.
Passa a dialética, passa a imagética, passa o hedonismo.
Talvez esta seja a hora e a vez.
Mas vou fingir que não é.
Se for, desculpe, não vou te contar.
O menino se pergunta onde foram parar os princípios.
A loucura toma conta das suas páginas.
Uma loucura de achar um lugar melhor.
Ele sabe que é hora de arregaçar as mangas,
arregaçar a filosofia.
O menino dança nas brasas do relógio e o ponteiro dos minutos
Parece que vai decapitá-lo.
Mas ele é brasa-mora, é cool, é style.
Receita da salvação:
meia lata de atum, azeite, 1 banana, farofa pronta, alho picado, sal, pimenta do reino e orágano a gosto, 1/4 de pacote de queijo ralado. Alcaparras para enfeitar.
O menino joga o atum na panela e frita no azeite.
Põe a banana e quando está desmanchando, coloca a farofa pra dar uma liga. Mexe e remexe, bota os temperos, deixa o alho pro final e por fim, ele coloca o queijo ralado.
O menino quase chora ao sentir o cheiro do queijo queimando e grudando no fundo da panela. Desliga o fogo e coloca uma meia dúzia de alcaparras.
Ele olha a sua obra e sente que vai comer a sua vida nonsense.
Que aquilo vai ter o gosto da morte, ou melhor, o desgosto da vida.
Mas ao seu paladar faminto, a iguaria não deixa a desejar.
O absurdo se dissolve em refeição. A fome continua, mas a sabedoria vem.
A despeito.
O passado ressurge, regurgitando pedaços mal digeridos.
Eis a indigestão.
Eis de novo a dialética. (E viva ao rei da Bélgica!)
O menino se despede de seus amigos. è a última vez que eles o verão.
Ele sabe, não a última vez de fato, mas a última vez assim.
Na próxima, eles verão outro. A negação que vai se negar e vai virar si mesmo ao se negar de novo, no futuro do futuro.
A baiana roda o menino.
Mas ele não entende esse hiperbato.
O menino se cansa de falar difícil.
Não, nao. Ele se cansa de falar e ponto.
Mas a vida é dois pontos.
PS - o menino sabe que não se deve colocar PS num poema.
carta é missiva, poesia é remissiva.
Ele sabe que não é porra de poeta nenhum. Mas ele quer mais é que as críticas se fodam.
E a poesia também.
Bravo!!
ResponderExcluirAplausos pro menino.Ele faz por merecer.
Gostei do que escreve, te ofereço uma canção como troca.
ResponderExcluirhttp://roderrock.blogspot.com/2010/05/mara-refletir-canta-shai-gabso.html
Sucesso!
I'm appreciate your writing skill.Please keep on working hard.^^
ResponderExcluirEu já li algumas vezes, e cada hora me desperta um sentimento diferente. Gosto da confusão, dos muitos sentidos... a vida, realmente, é dois pontos. Muito bom.
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