quarta-feira, 15 de junho de 2011

The Promise

Ah, o menino pensou. Ele não entendia o que significava um ato performático, ele não entendia o que estava errado. Foi fuçando na memória, sua história pessoal, prescrutada. Interrogada.
Ele deu um passo na direção de Gê e sentiu o calor de sempre. A barba mal feita, faz o quê, um mês, e ela pinica. Os óculos escuros escudam olhares azulados, assim, no meio da fumaça e ele não diz não. Só diz que amanhã, amanhã talvez. Ele ri embaraçado, e ainda comenta dos cogumelos. Ele é cruel? Não sabe como articular não. Por que demora tanto? A promessa erguida há tempos que já se amarelam, mantém-se firme, ainda que castelo de cartas. Seria super bonder? Quem colou as cartinhas? Bate vento e nada. A casa não cai. Mas ela também não protege das intempéries do tempo.

O menino força mais um pouquinho e o Érre aparece como uma tela azul. Aqui não foi a promessa, mas as mil e umas pequenas esperanças, pequenas frases que se perdem no torvelinho e saem no banho com umas duas esfregadas de bucha. Tão fácil, descem pelo ralo e deixam um gosto amargo na boca e uma sensação gordurosa, daquelas que nem deter gente tira. Mas essas são ilusões, são borboletas que pousam na flor e morrem.

Daí, o menino se depara com a promessa mais recente, indecente. De um certo Dábliu, nas ondas da www. Mesmo em possibilidades remotas, em chances pequenas, a proposta feita, aceita, acertada. Porém, sempre os obstáculos e adia-se, um dia e dois e muitos. Ausência vira algo como uma confirmação da desistência. Ganhei por WO. Ou melhor, perdi. Mas não, eis que das cinzas retorna, e acende a chama. Pandora volta e ri, gargalha um pouquinho, botando a mão na caixa do menino e prometendo. Prometendo.

Não fica cego. Eu vou abrir. Mas hoje não, amanhã.

Um comentário:

  1. Genial o texto!
    Lembrei de uma coisa que li a um tempo, que era mais ou menos isso:
    "Todos deveriam saber que promessas são muito mais do que tratos, promessas são pequenas ou grandes atos que fazem toda a diferença, pois se fosse diferente não haveria razão de ser selado um acordo com 'prometo'."

    No mais, gostei mesmo desse post!

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