quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Manda pro marcos, por favor?

Hoje eu vi um menino na rua

que parecia você. Talvez até fosse,

eu já sabia que não era porque não podia ser

Mas foi a mesma coisa, eu agi como teria agido se tivesse certeza

da sua ontologia ali parada perto do meio fio.

Eu tou de dieta, sabe?

Não consigo mais ir devorar as suas palavras

não limpo mais os dedos manchados de óleo e sangue

de porra (às vezes)

na barra da camiseta, depois de ter colocado tudinho na boca.

Faz tempo que eu não sinto o gosto doce das suas rimas, das suas carícias vernaculares

Dos seus tapas com luva de pelica nos que leem suas entrelinhas.

Mas não consigo fazer você sumir quando olho pra chuva. O sorriso da chuva me persegue

Vai e volta e eu todo molhadinho ali,

à minha revelia, cheio de culpa e segurando um cartaz laranja.

Mesmo que estivesse aqui e não do outro lado do mundo

A gente estaria a um mundo de distância

Você sabe como é filhos, contas, ser arrimo de família não é fácil.

Não que você já tenha arrimado alguma coisa. Mas não te acuso não

Só sei das rimas, não dos arrimos.

mas tou divergindo. Isso era pra agradecer, não era?

(falta amor pela arte, chamar a própria obra de isso, tem gente que não aprende)

Já tinha falado que era pra agradecer, tipo oração?

Não que eu esteja te comparando a Deus, sabe? Não alimento ego alheios assim.

(mas que parece, ah, parece)

nem estou duvidando da sua inteligência

afinal, você já tá voltando com o bolo enquanto eu estou indo com a farinha

(cadê os ovos, me pergunto)

E termino assim sem terminar, porque a nossa história é meio sem fim.

(é meio sem começo também. já te disseram que a nossa história parece coisa de livros? desses romances assim, sem romance, mas com um que de noir)

Peur du noir...

Sorte que a gente fez tudo com a luz acesa.

Mas agora

tem de apagar.

Já falei das contas, da patroa interna com o pau de macarrão?

Vou pegar meu guarda chuva, vou sim, mas enquanto o abro vou deixar

a vida me molhar sorrindo um pouquinho.

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