terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

escrita automática

(uma amiga nos inspira e a gente tenta...)

Sento aqui pra escrever um texto e não sei se estou escrevendo o texto ou se ele está me escrevendo sinto a mão pousar sobre a pena e percebo que a pena não existe o que é uma pena porque eu vou digitando maquinalmente na maquina que não mente se quem mente é quem sente e a maquina não parece sentir e as letras vão pulando no compasso do meu coração que fica batendo mais devagar e mais rápido tentando acompanhar os movimentos dos meus pensamentos e eu viro para olhar ao meu redor e o texto continua a me escrever e a me inventar e eu me vejo inventando desculpas para tentar me explicar e vejo que não me entendo pois ajo de uma forma que não deveria e o sol entra pela janela apesar de ser noite e eu não consegui dormir pois quem dorme não entende que a vida passa rápido e tudo parece ser externalidade e fugacidade e já não adianta mais prestar atenção nos cabelos brancos que despontam nas têmporas já que tudo vai passar e logo eles vão estar brancos e pretos e amarelos e azuis correndo comigo pelo universo cavalgando num cometa qualquer em direção a buracos negros e eu sinto que um está me puxando a ano-luz daqui, ou seria ele ali na minha cama rindo pra mim e me puxando puxando sugando e suando e na hora que eu chego perto ele vira uma supernova e não ri mais porque ele está namorando por aí e eu aqui sozinho com o texto e com a pena que já voou pela janela mas sempre volta como um bumerangue para mostrar quantos livros eu ainda tenho que ler e quantas horas eu ainda tenho que trabalhar e o suor pinga da minha testa e molha o solo arado pelos meus pensamentos e as sementes parecem demorar tanto pra vingar e o amor não chega pois acho que ele pensa que eu já não estou mais aqui, que eu mudei pra antártida onde tudo é frio menos a minha vontade de ser e de entender o mundo e a mim mesmo e eu vou tentando entender e nunca entendo e decido cavocar mas nunca consigo cavocar sozinho daí uso o telefone pra poder falar com deus e fica só dando ocupado porque acho que todos querem falar com deus e eu decido falar com o diabo mas ele está de férias e eu fico sem falar nada e sem cavocar só olhando por cima pra ver o que eu quero pro meu futuro que é algo que não existe igual ao passado porque tudo é uma grande especulação e memórias de impressões tingidas de tinta-sangue subjetiva um amontoado de irrealidade real porque não existe nenhum lugar fora da ideologia nem pecado ao sul do equador e eu fico martelando sentimentos que não são meus e fico vivendo dores alheias porque tenho medo da chuva e tenho medo do escuro e tenho medo do texto que não para de me escrever e de me mostrar que não tenho tempo de escrever e de amar e de voar e de intelegentiar e tem uma menina apontando pra mim e dizendo que eu sou inteligente mas ela não sabe que eu sou apenas uma fraudezinha que sabe fingir direitinho e que quer se libertar das amarras das coisas que não sei fazer porque quero fazer mais agir mais e ter um valor social mais adequado ao invés de ficar aqui sendo escrito e a chuva caindo lá fora e molhando a cabeça de quem não tem teto e sinto raiva e vomito alguns gnomos que pisam nos meus olhos e me fazem dormir.

2 comentários:

  1. Fiquei triste lendo seu texto... senti sua angústia. Espero que melhore... Bjks

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  2. Wow!!
    E eu que achei que só eu tinha essas crises de existencialismo noturnas, hahaha.Ainda bem que já passou, que foi só um susto, e que você deixou aqui, assim te conheci mais um pouquinho.

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