quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Fragmentos de Natal

Esse ano, o Natal foi um pouco diferente. Vale a pena deixar registrado aqui as surpresas que essa época do ano, tão tradicional, trouxe.

A ceia de Natal, na casa de um grande amigo, foi chia de aventuras. A maior parte dos pratos ficou no estilo agridoce. Daí, pude tirar a seguinte conclusão: o agridoce nos lembra exatamente o que é o gosto do natal e das festas de final de ano: o salgado representa o gosto das lágrimas de arrependimento pelo que não pudemos fazer durante aquele ano. O doce, normalmenteo mais fraco, nos remete ao gosto da esperança do que podemos fazer de legal e diferente no ano que vai se iniciar. Portanto, nada melhor que esse tipo de sabor pra colocar nossa nostalgia casada com nossa perspectiva.

Além disso, o fogo do forno estava muito muito fraco, daí foi necessário sair com o peru semi-assado, embrulhado em um cobertor e em luvas e tudo mais, e ir de uma casa pra outra, pra que ele pudesse ser assado. Depois desse passeio e de algumas horas cozinhando no fogo certo, e nós, já quase de fogo, o peru ficou excelente. Vale a lembrança, se quer uma carne mais tenra, leve seu peru pra passear na noite de natal.

Ah, outra descoberta feita assim "dirrepente" foi que apesar de fazer a banana pra confeitar o arroz, ela fica boa mesmo como um tira-gosto: basta corta-la em tiras e regar no vinho branco, ou se tiver acabado na vodca, e depois na farinha de rosca, depois fritá-la, é sucesso garantido.

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Mas nem só de comida e recitas foi feito esse natal. Ele também foi um momento de auto-reconhecimtento e de um aprendizado.

Às vezes a gente se percebe meio silencioso. Esse silêncio não implica que exista uma falta do que falar, mas que a fala não é necessária para a expressão daquilo que se faz mister comunicar. Ainda assim, pouco arrepentimento de não-ditos bateram. Não disse a dois amigos que me receberam em seu apartamento o quanto eu havia ficado honrado pela acolhida, o quão divertido havia sido e o quanto eu emulo o relacionamento ímpar e a cumplicidade deles. Torço kço muito pra que tudo dê certo sempre.

Já o aprendizado, isso dependeu de outras pessoas e foi um grande presente de natal.
Estava eu indo pra rodoviária de Curitiba. No ônibus, que veio logo, havia uma família, um pai, com seu filho, de uns 12 anos, e sua filha, com uns 5. Por causa da mochila, me mantive de pé e eo menino ficou de pé na minha frente. Eles quase desceram um ponto antes, mas a mulher avisou que eles deveriam descer no seguinte. O menino sorriu pra mim. Havia algo de estranho ali. Eu percebia alguma coisa especial no menino, mas não sabia dizer direito o que era.

Enquanto eu tentava descobrir o que era, ele se virou pra mim e quase me assustando ao falar comigo, me perguntou se eu ia passear também. Eu falei que iria pra casa, pra São Paulo. Daí, iniciamos uma conversa agradável. Enquanto atravessámos a rua pra chegar na rodoviária, ele me convidou para tomar uma coca. Enquanto conversávamos, percebi que o pai não lançava nenhum olhar de desaprovação, ao ver o jovem filho conversando com um estranho. Eles foram comprar a passagem para o litoral catarinense e eu fui pegar a minha passagem. Estava bastante suspeito aquela simpatia toda, mas fiquei curioso e decidi investigar até onde aquela história iria.

Voltei ao guichê onde as crianças esperavam o pai comprar as passagens. Fui conversando mais e mais com o rapazinho, sobre escola, sobre gostos. O engraçado era que eu não conseguia farejar nenhuma segunda intenção. Eu ficava com todos os olhos abertos e media bem minhas palavras, mas ia me deixando levar pela situação.

Assim que o pai comprou as passagens, eu disse que precisava comprar um presente pra uma amiga. Fui para uma das lojinhas e comprei um chaveiro e um ímã (que foram perdidos na viagem de volta), e eles pacientemente esperaram. Daí, fomos até uma lanchonete, e quem definia tudo era o menino. Ao sentarmos à mesa e escolhermos algo, eles pediram uma refeição. O primeiro pensamento do paranóico é: eles vão comer e depois eu que vou pagar a conta. O tempo todo, eles me ofereciam da comida, mas eu estava satisfeito pelo que havia comido antes de ir pra rodoviária, não tinha fome alguma. Porém, comia pedaços do bife que o pequeno cortava e me oferecia, e algumas fritas. Durante o jantar, conversei mais com o pai. Um moço simples, viúvo, a mãe dos meninos havia morrido, falamos de viagens, de trabalho, e de futebol.

Na hora de pagar, não apenas ele pagou tudo, não deixou eu contribuir nem com o suco que eu tinha pedido, como o garoto insitiu que eu deveria escolher um chocolate, que seria meu presente de natal, e mesmo eu dizendo que não queria, ele me deu um laka.

Estava quase na hora de eu ir embora, o ônibus deles partiria depois do meu. Eles fizeram questão de me acompanhar até o embarque e depois, fizeram tchau ao que partia. Achei aquela experiência toda muito legal, dei meu orkut pto pequeno, ele disse que tinha e que quando vier pra São paulo em julho, vai me avisar. O pai pediu que ele me desse o endereço deles pra quando eu quisesse visitar a humilde residência. É, parece que ainda existem pessoas de coração bom, que tratam os estranhos como se fossem da família.

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E que venha 2010!

Um comentário:

  1. Hey kid,
    Tem um montão de gente maravilhosa por aí e de vez em quando a gente cruza com elas...é por isso que eu não consigo entender por que diabos a gente aguenta tanta gente ruim fazendo parte da nossa vida.
    Talvez seja carma...talvez sadomasoquismo...who knows?Not me for sure...:)
    happy new year!!
    bjs

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