sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Terra Prometida


Finalmente o menino voltou de sua peregrinação. Ele traz tanta coisa na bagagem. Mas ele ainda não pode dizer nada. Sua voz calou diante das belezas do mundo e dos seus mistérios.
Ele viu a queda de suas convicções e viu que não era mais o mesmo que sempre havia sido. Menino tolo se deixa levar pelas ondas do mar e pela correnteza do rio. Sua vida vira material de musicais. Toda música se parece com ele.
Menino peregrino foi até onde se levanta um muro de lamentações. Viu guerreiras caindo uma a uma, por amor ou por desamor. Pobres guerreiras. Mulheres de fibra que são mais do que meras sombras, são luz e calor. Mas elas tombam diante do Inimigo. Elas cobram seus dízimos e se deixam dizimar.
O menino volta com a vontade renovada. Ele volta sabendo que ele falhou e não falou, ou falou, mas ainda assim, precisa ir além e precisa soltar o pé, voar e voar até suas asas doerem.
Pra quem tem duvida, eu sou o menino. Ou ele sou eu. A ordem realmente não está bem estabelecida por aqui. Acho que nem o progresso.
Menino louco que só quer ser entendido. Que só quer sossegar os ossos e a mente. Que está encontrando a paz a cada dia, apesar de saber que estamos em guerra. Todo dia em guerra, contra um mundo cão que quer nos morder, não, nos devorar até não sobrar nem os ossos.
E o menino vai vivendo no automático e vai se deixando levar pelas coisas que a vida vai dando pra ele apesar de que ele busca coisas que acha serem as melhores agora que está no prime de sua vida. Ele caça como não caçava há anos e fuça e espera e conversa e não dá em nada como sempre mas ele parece ter mais esperança que sempre teve apesar de ser uma poliana desde quando se lembra de ser. Eu já falei das músicas? E o pior pra ele é que todas as músicas que tocam parecem ser mensagens em uma garrafa, ele abre e lê e sabe que é pra ele, mas não pode ficar aqui colocando tantas frases citações de todas essas pessoas que falam de si mesmo e dele ao mesmo tempo. Ele tem vontade de deixar vir à tona o dragão que habita suas entranhas e ele tinha colocado pra dormir por falta de utilidade. Agora ele acorda e solta seu fogo, ruge e esbraveja e nada, nem a escrita, nem a letargia dos momentos gastos em vão conseguem tirar de si as certezas.
E eu corro, e eu remo, remo até no barco tipo esquife e apesar de me achar meio patife me entendo e me perdôo, não perco mais vôo nenhum. Nem solto pum.
Já o menino faz tudo isso e faz pior, ele finge que é eu, e quando fala em primeira pessoa, não percebe que é inútil tentar. Já se está no limbo, é hora de voltar.
O menino pensa nos dragões, adormecidos ou acordados, sofre por antecipação por uns 5 minutos e depois entende que o futuro pode ser melhor, que o presente pode ser melhor, que é hora de voltar pra realidade. Que é hora de voltar pra casa e agarrar a vida com as unhas, lamber-lhes os peitos e descer pelo torso. E de joelhos, assim, dar graças a todos os santos e santas, anjos e demônios.
O menino chupa e cospe o sangue com veneno, as chagas se abrem pouco a pouco, uma a uma, numa explosão de vontades e de medos e de carícias. O nojo substitui o desejo, mas um novo desejo desabrocha, é hora de o menino acordar e dobrar mais uma esquina. Realmente, até que acabe, nunca é o fim.

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